terça-feira, 5 de novembro de 2019

A MULHER QUE VENDEU O MARIDO POR R$ 1,99

Hoje em dia, meus amigos
os direitos são iguais
tudo o que faz o marmanjo
hoje a mulher também faz
se o homem se abestalhar
a mulher bota pra trás!

Acabou-se aquele tempo
em que a mulher com presteza
se fazia para o homem
artigo de cama e mesa
a mulher se fez mais forte
mantendo a delicadeza.

Não é mais “mulher de Atenas”
nem “Amélia” de ninguém
em mesmo sempre entendi
que a mulher direito tem
de sempre só ser tratada
por “meu amor” e “meu bem”.

Hoje o trabalho de casa
meio a meio é dividido
para ajudar a mulher
homem não faz alarido
quando a mulher lava a louça
quem enxuga é o marido!

Também na sociedade
é outra a situação
a mulher hoje já faz
tudo o que faz o machão
há mulher que até dirige
trem, trator e caminhão.

Esse fato todo mundo
já deu pra assimilar
a mulher hoje já pôde
seu espaço conquistar
quem não concorda com isso
é muito raro encontrar.

Entretanto, ainda existe
caso de exploração
o salário da mulher
é de chamar atenção
bem menor do que o do homem
fazendo a mesma função.

Também tem cabra safado
que não muda o pensamento
que não respeita a mulher
que não honra o casamento
que a vida de pleibói
não esquece um só momento.

Era assim que Damião
(o ex-mario de Côca)
queria viver: na cana
sem tirar copo a boca
enquanto sua mulher
em casa feito uma louca...

... cuidando de três meninos
lavando roupa e varrendo
feito uma negra-de-ferro
de fome o corpo tremendo
e o marido cachaceiro
pelos botequins bebendo.

Mas diz o velho ditado
que todo mal tem seu fim
e o fim do mal de Côca
um dia chegou enfim
foi quando Côca de estalo
pegou a pensar assim:

“Nessa vida que eu levo
eu não tô vendo futuro
eu me sinto navegando
em mar revolto e escuro
vou remar no meu barquinho
atrás de porto seguro”

“Na próxima raiva que eu tenha
desse meu marido ruim
qualquer mal que me fizer
tomarei como estopim
e a triste casamento
eu vou decidir dar fim”

Estava Côca pensando
na vida quando chegou
Damião morto de bêbado
(nem boa-noite falou
passava da meia noite)
e na cama se atirou!

Dona Côca foi dormir
muito triste e revoltada
contudo tinha na mente
a sua ação planejada
pra dar novo rumo à vida
já estava preparada.

de manhã Côca acordou
com a braguilha pra trás
deu cinco murros na mesa
e gritou: “Ô Satanás
eu vou te vender na feira
vou fazer já um cartaz!”

Pegou uma cartolina
que ela havia escondido
escreveu nervosamente
com a raiva do bandido:
“Por um e noventa e nove
estou vendendo o marido”

Assim mostrou ter no sangue
sangue de Leila Diniz
Pagu, Maria Bonita
de Anayde Beiriz
(de brasileiras de fibra)
de Margarida e Elis!

Pegou o marido bêbado
de jeito, pela abertura
da direção do mercado
ela saiu à procura
de vender o seu marido
ia com muita secura!

Ficou na feira de Patos
no mais horrendo lugar
(na conhecida “U.T.I.”)
e começou a gritar:
“Tô vendendo o meu marido
quem de vocês quer comprar?”

Umas bêbadas que estavam
estiradas pelo chão
despertaram com os gritos
e uma do cabelão
perguntou pra Dona Côca
“Qual o preço do gatão?”

“É um e noventa e nove
não está vendo o cartaz?”
Dona Côca respondeu
e a bêbada disse: “O rapaz
tem uma cara simpática
acho até que vale mais”

Damião estava “quieto”
e de ressaca passado
com cordas nos pés e braços
numa cadeira amarrado
também tinha um esparadrapo
em sua boca colado.

Começou a chegar gente
se formou a multidão
em volta de Dona Côca
e o marido Damião
quando deu fé, logo, logo
encostou o camburão.

Nisso um cabo da polícia
do camburão foi descendo
e perguntando abusado
“Que é que tá acontecendo?”
Alguém disse: Esta mulher
o marido está vendendo”

Do meio do povo disse
um velho em tom de chacota:
“Esse caneiro já tem
uma cara de meiota
não tem mulher que dê nele
de dois reais uma nota.

E, de fato, ô cabra feio
desalinhado e barbudo
fedendo a cana e cigarro
com um jeito carrancudo
banguelo, um pouco careca
pra completar barrigudo.

Nisso chegou uma velha
que vinha com todo o gás
e disse para si mesma
depois de ler o cartaz:
“Hoje eu tiro o prejuízo
com esse lindo rapaz!”

Disse a velha: “Francamente!
Eu estou achando pouco!
Por 1 e 99?!
Tome dois, nem quero o troco!
Deixe-me levar pra casa
esse meu Chico Cuoco!

Saiu a velha enxerida
de braços com Damião
a polícia prontamente
dispersou a multidão
e Côca tirou por fim
um peso do coração.

Retornou Côca feliz
pra casa entoando hinos
a partir daquele dia
teria novos destinos...
Com os dois reais da venda
comprou de pão pros meninos!

(Janduhi Dantas)




      Apesar de a literatura de cordel fazer parte da cultura nordestina, eu nunca tinha tido contato com ela durante a minha vida estudantil, inclusive acadêmica. O primeiro cordel que li foi justamente este: A mulher que vendeu o marido por R$ 1,99. E foi a partir desse folheto que a minha paixão pela literatura de cordel floresceu.
           É interessante ressaltar que o meu primeiro contato com esse título foi ouvindo o próprio autor recitando-o em um evento dedicado exclusivamente aos professores da 6ª Gerência Regional da Educação do estado da Paraíba, há mais de 15 anos. Assim que o cordelista terminou de recitá-lo, eu corri pra comprar o cordel (rsrs).
         A partir de então, passei a ser leitora e admiradora dos cordéis de Janduhi Dantas. Hoje em dia, se alguém me perguntar qual é o meu folheto preferido, não hesitarei em dizer: A mulher que vendeu o marido por R$ 1,99.



Mas e aí, gostou da leitura?
Conhece alguém que gostaria de vender o marido? 
Conte-nos, deixando o seu comentário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário