Hoje
em dia, meus amigos
os
direitos são iguais
tudo
o que faz o marmanjo
hoje
a mulher também faz
se o
homem se abestalhar
a
mulher bota pra trás!
Acabou-se aquele tempo
em
que a mulher com presteza
se
fazia para o homem
artigo
de cama e mesa
a
mulher se fez mais forte
mantendo
a delicadeza.
Não é
mais “mulher de Atenas”
nem
“Amélia” de ninguém
em
mesmo sempre entendi
que a
mulher direito tem
de
sempre só ser tratada
por
“meu amor” e “meu bem”.
Hoje
o trabalho de casa
meio
a meio é dividido
para
ajudar a mulher
homem
não faz alarido
quando
a mulher lava a louça
quem
enxuga é o marido!
Também
na sociedade
é
outra a situação
a
mulher hoje já faz
tudo
o que faz o machão
há
mulher que até dirige
trem,
trator e caminhão.
Esse
fato todo mundo
já
deu pra assimilar
a
mulher hoje já pôde
seu
espaço conquistar
quem
não concorda com isso
é
muito raro encontrar.
Entretanto,
ainda existe
caso
de exploração
o
salário da mulher
é de
chamar atenção
bem
menor do que o do homem
fazendo
a mesma função.
Também
tem cabra safado
que
não muda o pensamento
que
não respeita a mulher
que
não honra o casamento
que a
vida de pleibói
não
esquece um só momento.
Era
assim que Damião
(o
ex-mario de Côca)
queria
viver: na cana
sem
tirar copo a boca
enquanto
sua mulher
em
casa feito uma louca...
... cuidando
de três meninos
lavando
roupa e varrendo
feito
uma negra-de-ferro
de
fome o corpo tremendo
e o
marido cachaceiro
pelos
botequins bebendo.
Mas
diz o velho ditado
que
todo mal tem seu fim
e o
fim do mal de Côca
um
dia chegou enfim
foi
quando Côca de estalo
pegou
a pensar assim:
“Nessa
vida que eu levo
eu
não tô vendo futuro
eu me
sinto navegando
em
mar revolto e escuro
vou
remar no meu barquinho
atrás
de porto seguro”
“Na
próxima raiva que eu tenha
desse
meu marido ruim
qualquer
mal que me fizer
tomarei
como estopim
e a
triste casamento
eu
vou decidir dar fim”
Estava
Côca pensando
na
vida quando chegou
Damião
morto de bêbado
(nem
boa-noite falou
passava
da meia noite)
e na
cama se atirou!
Dona
Côca foi dormir
muito
triste e revoltada
contudo
tinha na mente
a sua
ação planejada
pra
dar novo rumo à vida
já
estava preparada.
de
manhã Côca acordou
com a
braguilha pra trás
deu
cinco murros na mesa
e
gritou: “Ô Satanás
eu
vou te vender na feira
vou
fazer já um cartaz!”
Pegou
uma cartolina
que
ela havia escondido
escreveu
nervosamente
com a
raiva do bandido:
“Por
um e noventa e nove
estou
vendendo o marido”
Assim
mostrou ter no sangue
sangue
de Leila Diniz
Pagu,
Maria Bonita
de
Anayde Beiriz
(de
brasileiras de fibra)
de
Margarida e Elis!
Pegou
o marido bêbado
de
jeito, pela abertura
da
direção do mercado
ela
saiu à procura
de
vender o seu marido
ia
com muita secura!
Ficou
na feira de Patos
no
mais horrendo lugar
(na
conhecida “U.T.I.”)
e
começou a gritar:
“Tô
vendendo o meu marido
quem
de vocês quer comprar?”
Umas
bêbadas que estavam
estiradas
pelo chão
despertaram
com os gritos
e uma
do cabelão
perguntou
pra Dona Côca
“Qual
o preço do gatão?”
“É um
e noventa e nove
não
está vendo o cartaz?”
Dona
Côca respondeu
e a
bêbada disse: “O rapaz
tem
uma cara simpática
acho
até que vale mais”
Damião
estava “quieto”
e de
ressaca passado
com
cordas nos pés e braços
numa
cadeira amarrado
também
tinha um esparadrapo
em
sua boca colado.
Começou
a chegar gente
se
formou a multidão
em
volta de Dona Côca
e o
marido Damião
quando
deu fé, logo, logo
encostou
o camburão.
Nisso
um cabo da polícia
do
camburão foi descendo
e
perguntando abusado
“Que
é que tá acontecendo?”
Alguém
disse: Esta mulher
o
marido está vendendo”
Do
meio do povo disse
um
velho em tom de chacota:
“Esse
caneiro já tem
uma
cara de meiota
não
tem mulher que dê nele
de
dois reais uma nota.
E, de
fato, ô cabra feio
desalinhado
e barbudo
fedendo
a cana e cigarro
com
um jeito carrancudo
banguelo,
um pouco careca
pra
completar barrigudo.
Nisso
chegou uma velha
que
vinha com todo o gás
e
disse para si mesma
depois
de ler o cartaz:
“Hoje
eu tiro o prejuízo
com
esse lindo rapaz!”
Disse
a velha: “Francamente!
Eu estou
achando pouco!
Por 1
e 99?!
Tome
dois, nem quero o troco!
Deixe-me
levar pra casa
esse
meu Chico Cuoco!
Saiu
a velha enxerida
de
braços com Damião
a
polícia prontamente
dispersou
a multidão
e
Côca tirou por fim
um
peso do coração.
Retornou
Côca feliz
pra
casa entoando hinos
a
partir daquele dia
teria
novos destinos...
Com
os dois reais da venda
comprou
de pão pros meninos!
(Janduhi Dantas)
Apesar de a literatura de cordel fazer parte da cultura nordestina, eu nunca tinha tido contato com ela durante a minha vida estudantil, inclusive acadêmica. O primeiro cordel que li foi justamente este: A mulher que vendeu o marido por R$ 1,99. E foi a partir desse folheto que a minha paixão pela literatura de cordel floresceu.
É interessante ressaltar que o meu primeiro contato
com esse título foi ouvindo o próprio autor recitando-o em um evento dedicado
exclusivamente aos professores da 6ª Gerência Regional da Educação do estado da
Paraíba, há mais de 15 anos. Assim que
o cordelista terminou de recitá-lo, eu corri pra comprar o cordel (rsrs).
A
partir de então, passei a ser leitora e admiradora dos cordéis de Janduhi
Dantas. Hoje em dia, se alguém me perguntar qual é o meu folheto preferido, não
hesitarei em dizer: A mulher que vendeu o marido por R$ 1,99.
Mas e aí, gostou da leitura?
Conhece alguém que gostaria de vender o marido?
Conte-nos, deixando o seu comentário.
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