terça-feira, 3 de dezembro de 2019

SEQUÊNCIA DIDÁTICA DO CORDEL: A MULHER QUE VENDEU O MARIDO POR 1,99

TEMAS: intertextualidade, relacionamento afetivo, condição da mulher

OBJETO DE ESTUDO: Os folhetos e a construção do humor

SÉRIE: 1º ano do Ensino Médio

OBJETIVOS:
- estimular o gosto pela leitura de cordéis;
- proporcionar a fruição estética através da literatura de cordel;
- identificar traços do humor presentes no cordel.

RECURSOS DIDÁTICOS:
- folheto A mulher que vendeu o marido por R$ 1,99, de Janduhi Dantas;
- folheto O MARIDO que rifou a MULHER na Feira da Sulanca, de Marcelo Soares;
- cartaz.

PROCEDIMENTOS:
- leitura oral;
- leitura compartilhada;
- discussão e debate;
- encenação.

QUANTIDADE DE AULAS:
4 aulas

DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES (COSSON, 2009):

MOTIVAÇÃO:
Para início do trabalho com a leitura literária, a motivação da turma é uma etapa essencial, pois a partir dela é que o professor prepara os alunos para entrarem no universo da leitura (COSSON, 2009). Um recurso eficaz para entrar neste universo é trazer para a realidade do aluno aquilo que se passa dentro da narrativa, aproximando mais o texto do leitor, fazendo-o adentra-se no mundo narrativo e interagir com ele. Na estrofe 17 do cordel “A mulher que vendeu o marido por R$ 1,99”, Côca, cansada de sofrer por causa de seu marido vagabundo

Pegou uma cartolina
que ela havia escondido
escreveu nervosamente
com a raiva do bandido:
“Por um e noventa e nove
estou vendendo o marido”
(JANDUHI, 2005, p. 5)

A partir dessa atitude da personagem, propomos que para este momento de motivação, o professor prepare um cartaz contendo o letreiro “Vende-se um marido por 1,99” e pregue-o na lousa. Depois levante questionamentos com os alunos do tipo: quem gostaria de comprar um marido?; como seria o marido ideal para se comprar?; por que esse marido está a venda?; Em que circunstâncias (onde e como) ela iria vendê-lo?; Que argumentos ela usaria para vendê-lo? Esses questionamentos são fundamentais não só para antecipar, mas também para estimular o prazer da descoberta, fomentando as expectativas sobre o cordel.


VENDE-SE UM MARIDO POR
R$ 1,99


LEITURA:
O segundo momento da apreciação do texto é a leitura oral do cordel O marido que vendeu a mulher por R$ 1,99(leia aqui) destacando que a expressividade provocada pelos diálogos entre os personagens é que favorece o tom humorístico no poema, pois segundo Pinheiro & Lúcio (2001, p. 84) “se a narrativa tem um tom humorístico, a leitura deverá realçar esse traço”. Essa leitura deve ser compartilhada (COLOMER, 2007), envolvendo o professor e a turma, em que cada um possa ler uma estrofe do cordel. Um exemplo desses diálogos é a negociação de Côca com umas mulheres que se interessaram em comprar seu marido.

Umas bêbadas que estavam
estiradas pelo chão
despertaram com os gritos
e uma do cabelão
perguntou pra Dona Côca
“Qual o preço do gatão?”

“É um e noventa e nove
não está vendo o cartaz?”
Dona Côca respondeu
e a bêbada disse: “O rapaz
tem uma cara simpática
acho até que vale mais”
(JANDUHI, 2005, p. 6)

INTERPRETAÇÃO
Após a leitura é importante o debate e a discussão sobre os pontos mais relevantes do texto. Essa prática permite perceber a identificação dos alunos com o cordel à medida que estes vão apontando os versos que mais lhes chamaram atenção, bem como as estrofes em que o humor foi mais perceptível para cada um. Depois da apreciação do cordel, o professor poderá lançar alguns pontos para provocar a discussão, que consistirá na interpretação, caso não parta dos alunos. O debate oral poderá ser sobre a construção social dos personagens (o marido e a mulher), a relação entre o espaço e o universo popular, a linguagem do cordel, o discurso do narrador e das personagens, entre outros.

APRESENTAÇÃO:
Após a interpretação o professor pode explorar oralmente a relação estabelecida entre os alunos e o universo do cordel, relatando, de maneira geral, porém simplificada, o que representa, quais temas aborda, o perfil dos cordelistas, as suas condições de trabalho, locais de produção de venda, entre outros aspectos que julgar importante. Essa apresentação do gênero deve ser feita de forma resumida, subentendendo que os alunos já tenham conhecimento de alguma coisa sobre o cordel, não sendo necessária uma aula explicativa sobre o assunto. Porém, fica a critério de cada professor, que conhecendo seus alunos, saiba da necessidade de aprofundar esse assunto.

EXPANSÃO:
A expansão, segundo Cosson (2009, p. 94) “é esse movimento de ultrapassagem do limite de um texto para outros textos, quer visto como extrapolação dentro do processo de leitura, quer visto como intertextualidade no campo literário”. A leitura de uma segunda obra que complete a leitura da primeira é o que pretendemos na expansão, destacando a relação intertextual, sabendo que esta prática pode se dar com qualquer gênero que dialogue com a primeira leitura.
A escolha de um segundo folheto se deu pela pretensão de privilegiar a expansão da experiência estética com a literatura de cordel, estabelecendo o diálogo entre ambos a partir da temática e do enfoque dos personagens. Sendo assim, o cordel escolhido para esse momento foi “O marido que rifou a mulher na Feira da Sulanca” (leia aqui), de Marcelo Soares.
Indicamos a leitura oral e em voz alta pelo professor, seguida da interpretação do cordel de cunho comparativo, que possibilitará aos alunos a identificação dos pontos convergentes e divergentes entre os folhetos lidos (estrutura rítmica dos cordéis, a construção dos personagens, os elementos pré-textuais, entre outros). Para Pinheiro e Lúcio (2001, p. 86) “o objetivo da comparação é estimular a discussão, o diálogo, o confronto de pontos de vistas e chamar a atenção para o fato de que a literatura de cordel coloca na ordem do dia questões humanas fundamentais”.
Alguns pontos convergentes observados nos cordéis são a presença do ambiente popular (feira, mercado); ambas narrativas destacam a relação conjugal, a construção do humor configura-se na ação dos protagonistas e nos tipos humanos que compõem a narrativa, o tom pejorativo que norteiam os títulos nas palavras “sulanca”, feira de produtos com preços baixos, “1, 99”, valor depreciativo para vender-se um marido, entre outros. Esses pontos devem ser observados e colocados na discussão pelos alunos. Porém, se eles não apontarem, o professor pode levantar alguns questionamentos que os despertarão para tais pontos, do tipo: qual o desfecho das narrativas? em que ambiente os acontecimentos se passam? como são os personagens femininos e masculinos? O que sugere os títulos? que artigos são vendidos na feira da sulanca e no mercado por 1,99?, entre outros.

REGISTRO:
O registro é uma forma de “verificar o balanço final, ou seja, se o objetivo da leitura foi alcançado” (COSSON, 2009, p. 114). Sugerimos a encenação do cordel A mulher que vendeu o marido por R$ 1,99 ou a dramatização de uma cena do cordel, por exemplo, o momento da venda do marido na feira. A encenação pode envolver a turma toda ou parte dela, no trabalho de dramatizar o cordel. Alguns alunos irão encenar, enquanto outros podem cuidar do figurino, da sonoplastia, da maquiagem, do cenário, entre outros.

AVALIAÇÃO:
É importante ressaltar que a avaliação aqui não serve para punir ou cobrar, mas para diagnosticar como se deu o processo de recepção (JAUSS, 1979) e interação do texto com o leitor (ISER, 1979), portanto teremos como instrumento avaliativo a participação nas atividades propostas. Sugerimos ao professor que entregue retângulos de cartolina em branco para os alunos para que registrem com apenas uma palavra as impressões sobre o texto e colem no mesmo cartaz, outrora utilizado no momento de motivação da leitura. Sugerimos ainda, uma pesquisa de provérbios populares que foquem o humor ou as relações humanas e construa-se um mural.

Ps.: Essa sequência didática foi elaborada em parceria com a minha amiga e professora da rede estadual de Pernambuco, Adriana Vicente do Nascimento.

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