DA SEXTA-FEIRA SANTA DO ANO AINDA DE TREVAS DE 1973
Dor de ver-te pendido do madeiro
como um ladrão sequestrador de almas.
Asas abertas são teus braços, calmas,
na aceitação que reza o teu letreiro.
Morto como a paisagem que morria
dos teus olhos na luz arrebatados.
São olhos que perdoam e não perdoados
teus suplícios foram: longa é a via.
que haverá de seguir o teu perdão
por terras, mares, povos apartados,
em meu silêncio e minha solidão,
no vinho da taverna condenada,
em torno à mesa, ao se cortar o pão,
no poste da liberdade ameaçada.
SONETO RETARDADO DE NATAL
invento palavras, rumino silêncios.
Mas lembro que, um dia, em meio aos incensos,
a vã solidão, sentia-a, como é.
Busquei nos mais fundos recantos da alma
as várias palavras, os simples caminhos
por onde seguiam longínquos meninos,
tão cheios de fé, tão faltos de calma.
E agora que os sonhos se foram de vez,
cresceram, sumiram - navios do ar -
não há mais ainda, não há mais talvez.
Restou-me dos sonhos pra neblina
e, além das vidraças, do céu e do mar,
a pobre lembrança, que é noiva e menina.
CANÇÃO DESTE NATAL
Procurou na terra
procurou no ar,
procurou na guerra
e não pôde achar.
Procurou nos rios,
procurou no mar
nos telégrafos sem fios
e, outra vez, no ar.
Procurou na lua
(tentativa em vão)
e voltou dizendo:
"não existe não".
Muito velho o sábio
foi que se lembrou
dentro dele mesmo
nunca procurou.
Fonte: Patos em revista
Tarcísio Meira César nasceu em Patos, no dia 21 de junho de 1941. Foi professor, filósofo, jornalista, repórter, colaborador de vários jornais e revistas; ensaísta e poeta. Suas obras são: "Poemas de uma terra estranha", "Poemas grotescos e outras poesias" e "O espelho em que terminas". Faleceu no dia 1º de janeiro de 1998, em Brasília, capital federal. Seus restos mortais foram transladados para o cemitério São Miguel, na sua cidade natal.
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