sexta-feira, 10 de setembro de 2021

VIAGEM À SANTA VONTADE (CORDEL)

Viagem à Santa Vontade
 
(Maria Godelivie)
 
BANDEIRA foi pra Pasárgada
Onde o rei o festejou
Pra Saruê foi CAMILO
Que a brisa mansa levou,
Já MONTEIRO este aí para
Baixa da Égua embarcou.
 
Era uma tarde chuvosa,
Molhada, fria, cinzenta
Uma preguiça danada
Me deixava sonolenta
Por isso fechei os olhos
E fui sonhar pachorrenta.
 
Assim que fechei os olhos
Senti imensa vontade
De atingir um lugar
Que existe de verdade
No desejo das mulheres
Amantes da liberdade.
 
E essa viagem foi
Deveras maravilhosa
Quando eu embarquei nas asas
De uma coisa fabulosa
Chamada imaginação
Eita! Coisa poderosa.
 
O vento corria frio
A brisa beijava o mar
O mar se aninhava todo
Pra me deixar flutuar
Por cima das suas ondas
E ao meu destino chegar.
 
Em pouco tempo cheguei
Nesse lugar desejado
Aonde tudo era simples
Porém muito organizado
Não existia desordem
Estava tudo arrumado.
 
Lá quem domina é a MULHER
Por ter muita paciência
Os homens só obedecem
Já que não têm competência
Por isso SANTA VONTADE
Nunca entra em decadência.
 
Esses preconceitos bobos
Lá não tem vez nem lugar
Toda mulher tem direito
De agir, de protestar,
De dizer suas vontades
Se com nada se importar.
 
Andar sempre acompanhada
De um bonito garanhão
Não ter compromisso sério
E em qualquer ocasião
Ter um gostoso do lado
Que lhe estimule o tesão.
 
Fazer serão toda noite
Sem ter hora pra voltar
Conversar com as amigas
Tomar cerveja no bar
Só retornando pra casa
Quando a farra terminar.
 
Ter companheiro educado
Que lhe faça cafuné
Que lhe cubra de carinho
Que não pegue no seu pé
Tendo toda liberdade
De ser do jeito que é.
 
Saiba que em SANTA VONTADE
Homem tem obrigação
De preparar a comida
Com toda dedicação
E servir a companheira
Na hora da refeição.
 
Por ser estressado e “grosso”
Homem não pode guiar
Pois só cria confusão
Toda hora quer brigar
Não respeita as Leis de trânsito
E só pensa em se mostrar.
 
Lá quando a velhice chega
Não dá nem pra perceber
Porque a idade passa
Sem o corpo envelhecer
Só registra a experiência
Essa nunca há de morrer.
 
Por incrível que pareça
Não tem político corrupto
Todos são honestos e
De caráter impoluto
Tanto que nunca existiu
Um governo dissoluto.
 
Dinheiro é coisa facílima
De toda mulher ganhar
Basta pensar no que quer
Pra ele se apresentar
Na quantia desejada
Pra toda mulher ganhar.
 
Governantes são engajadas
No bem da comunidade
A vida dos cidadãos
É uma tranquilidade
Pois mulheres atuando
Tudo tem prosperidade.
 
Não existe preconceito
Problemas ou confusão,
Nem falta de atendimento,
Nem escola em construção
Cemitério abandonado,
Empresa de aviação.
 
Doença lá não existe
Ninguém fica adoentado
Se alguém estiver doente
Lá chegando está curado
Não tem hospital daqueles
Com fila e leito ocupado.
 
Todos têm habitação
Casa própria pra morar
Briga, raiva e covardia
Lá não encontra lugar
Por isso em SANTA VONTADE
Toda mulher quer morar.
 
Não existe mendicância
Não existe embromação
Todo mundo se respeita
E tem muita educação
Crianças respeitam os velhos
Com muita admiração.
 
Comida tem de fartura
Satisfaz seu paladar
Os pratos são saborosos
É só você desejar
Que a comida aparece
Prontinha pra degustar.
 
Dias e dias alegres
Passei em SANTA VONTADE
Curtindo a vida feliz
Na maior tranquilidade
Num hotel a beira mar
Casa da Felicidade.
 
Muito bem acompanhada
De um homem bonitão
Seus olhos azul-turquesa
Despertavam emoção
Nesse momento pensei:
- Será o Fábio Assunção?
 
Mas isso não importava
Eu tinha que aproveitar
Pois a hora da partida
Teimava em se aproximar
Para de forma tristonha
Eu partir desse lugar.
 
Desfrutei por mais uns dias
Desse lugar maravilhoso
Mas a vida me chamava
De jeito muito assombroso
Eu devia voltar logo
E isso era doloroso.
 
Mas os que deixei aqui
Sentiam falta de mim
E por isso eu retornei
Já que resolvi assim
Voltar lá eu voltarei
Tenho certeza que sim.
 
Mulher tem os seus direitos
E é ser humano também
Mas homem machista sempre
Acha que a mesma não tem
O direito de ser dona
Da vontade e lhes detém.
 
Mulheres, façam da vida
O que mandar-lhe a razão
Jamais queiram por marido
Homem metido a machão
Dos que só sabem exigir
E viver de confusão.
 
Por isso é que eu comemoro
As conquistas femininas
Elas precisam existir
No instinto das meninas
A grande vitória é feita
Das vitórias pequeninas.
 
Sabemos que ainda existe
Muita mulher submissa
Aceitando paciente
Sem nunca ter a cobiça
De exigir seus direitos
Para que haja justiça.
 
Sei que ainda é utopia
Muita coisa desejada
Mas vale a pena lutar
Pela coisa almejada
Para que possa existir
Mulher em luta engajada.
 
Lembrando a toda mulher:
- SANTA VONTADE é real
No orgulho das mulheres
Cuja meta principal
É tornar realidade
Seu mais simples ideal.







Quem é a cordelista?



Fonte: facebook


Maria Godelivie Cavalcante de Oliveira, ou simplesmente Maria Godelivie, nasceu no dia 14 de outubro de 1959, na cidade de Campina Grande, estado da Paraíba. Seu primeiro contato com a poesia popular, especificamente com a literatura de cordel, foi ainda na infância, por intermédio do seu pai, o Sr. Agripino Batista de Oliveira. Na juventude, ao cursar Letras, Godelivie passou a conhecer mais profundamente a literatura de cordel, reafirmando sua paixão pela poesia. Na docência, sempre que possível, utilizava vários cordéis em sala de aula e a partir daí começou a escrever e publicar seus próprios folhetos. Algumas de suas obras são: O gostosão, O homem que beijou uma alma e A vingança da falecida.

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