sexta-feira, 22 de outubro de 2021

UMA MENINA VESTIDA DE JARDIM: CORDEL DE MARIANE BIGIO

Uma menina vestida de jardim

(Mariane Bigio)


Sitio Formoso era lindo

Feito o nome já dizia

Lá morava uma menina

O seu nome era Maria

O mesmo nome da avó

Da mãe e também da tia

 

Por haver tanta Maria

Pra ninguém se aborrecer

Ela ganhou mais um nome

Logo depois de nascer

Tornou-se Maria Flor

E assim pôs-se a crescer

 

O jardim a florescer

A primavera chegou!

Correu notícia no sítio

Rebuliço se instalou

“Vai ter baile e muita dança

o vizinho convidou!”

 

Cada moça procurou

uma roupa pra usar

Maria Flor foi correndo

No seu baú foi buscar

Escolheu um vestidinho

O mais bonito que há!

 

Mas ao experimentar

O vestido não cabia!

Essa Flor cresceu tão rápido

Coitadinha da Maria!

Provou, abriu, não fechou

Nenhuma roupa servia!

 

Uma prima lhe acudia:

“Esse aqui pode ser seu

Já não cabe mais em mim

Já não pode mais ser meu”

Maria pegou o vestido

E à prima agradeceu

 

A menina entristeceu

Queria roupa novinha!

Algo bem diferente

Com detalhes na bainha

Com gola, manga e botão

Babado, laço e fitinha

 

Foi chegando a noitinha

Família toda animada

Só Maria, cabisbaixa

Num cantinho, encostada

Mas quando chegou na festa

Ficou logo deslumbrada!

 

A casa bem decorada

O jardim muito bonito!

Aliás, em todo o sítio

Foi seu canto favorito

Sentou-se ali, entre as plantas

Ficando longe do agito

 

Quando ouviu barulho aflito:

“Que cara é essa querida”

perguntou-lhe uma cigarra

pousada na margarida

Maria Flor respondeu:

Estou muito mal vestida!”

 

E com cara de sofrida

a menina prosseguiu:

Este vestido é usado

Porque outro não serviu

Está grande e desbotado

Não sei se a senhora viu…”

 

E a cigarra fez: “psiu!

Eu posso te ajudar!

Vou chamar alguns amigos

Sua roupa incrementar

Você já é tão bonita

E mais bela irá ficar!”

 

Flor não quis acreditar

Mas a cigarra chamou

A mais linda borboleta

Que em seu colo repousou

“Quer broche melhor que esse?”

A cigarra perguntou

 

E ela então continuou

“Que venham as joaninhas!”

De cima a baixo da roupa

Fizeram fila retinha

“Estes são os seus botões,

mas podem fazer cosquinha!”

 

A astuta cigarrinha

Muitas flores contratou

A papoula bem frondosa

Em mangas se transformou

Cada pétala de rosa

A cigarra costurou

 

Com o fio que sobrou

De uma teia da aranha

Fez assim uma bainha

De beleza tão tamanha

E ainda completou

“Tem alguma coisa estranha…”

 

“Margarida, não se acanha!

É você que está faltando!”

A flor branca e amarela

Foi de pronto se instalando

Nos cabelos de Maria

Que estava adorando!

 

Uma planta se arrastando

Dessas feito trepadeira

Agarrou-se na cintura

E enrolou-se por inteira

A cigarra agradeceu:

Bem-vinda, dona Parreira!

 

Centopéia, bem faceira

Veio quase tropeçando

Subiu até lá em cima

Foi na gola se instalando

Parecia um colar

Com muitas contas brilhando

 

Maria se viu dançando

Não podia acreditar!

Nunca vestiu-se assim

Nunca de imaginar

Quase beijou a cigarra

Que falou pra não cantar:

 

Vá depressa aproveitar

 na festa se entreter

e quando tudo acabar

venha logo devolver

cada coisa pro seu canto

pro jardim poder viver”

 

Maria então foi fazer

O que a cigarra mandou

Se divertiu como nunca!

Todo mundo elogiou

O vestido mais bonito

Que ninguém jamais usou

 

E quem foi que costurou?

Todo mundo perguntava

Maria contava tudo

Mas ninguém acreditava

Ela estava tão feliz

Que pros outros nem ligava!

 

Maria contagiava

Todos com sua alegria

E já nem se importava

Com a roupa que vestia

Assim voltou ao jardim

Onde a cigarra vivia

 

Ali desfez a magia

A todos agradeceu

Cada coisa em seu lugar

A menina devolveu

Voltou com vestido velho

Só que ninguém percebeu!

 

E o dia amanheceu

A festa teve seu fim

Maria Flor florescia!

Terminou feliz assim

A história da menina

Que vestiu-se de jardim!



Clique no vídeo abaixo e assista a uma representação desse cordel:





Leia também aqui neste blog outros cordéis de Mariane Bigio: A bagunça dos brinquedos e Marmelo, o jacaré banguelo.


sexta-feira, 15 de outubro de 2021

PINÓQUIO EM LITERATURA DE CORDEL

Pinóquio ou o preço da mentira
 
(Manoel Monteiro)
 
GEPETO, artesão famoso,
Em sua marcenaria
Dava vida a simples tábuas,
Serrava, colava, única
Com tanto amor, tanto afeto,
Que ao fim do objeto
Um filho lhe parecia.
 
As casinhas que fazia,
Burrico, vaca, novilho
Tudo em madeira, e, perfeito,
Com muito amor, muito brilho,
Ganhavam sua afeição,
Mesmo assim seu coração
Sentia a falta de um filho.
 
Queria ouvir estribilho
De menino tagarela
Brincando em frente de casa
Chamando o pai da janela;
Da solidão que insistia
Em fazer-lhe companhia
Queria afastar-se dela.
 
Foi à casinha singela
Do compadre Cerejeira
Outro artesão, seu amigo,
E duma tábua “maneira”
Que lá pôde conseguir
Começou a construir
Um boneco de madeira.
 
Fez o rosto de olhos grandes,
As mãos, os pés e o busto,
A boca, o nariz, as pernas,
Costas e peito robusto,
Os cabelos alourados
Um pouco encaracolados,
Testa ampla, queixo justo.
 
Cada dia o bonequinho
Ganhava um ar de bondade
E mais a mais parecia
Com um guri de verdade,
Para manter um colóquio
GEPETO chamou PINÓQUIO
E deu-lhe a paternidade.
 
O boneco era inquieto
Como as crianças são
Mas ganhando vida deu
Nova vida ao artesão
Que agora em seu pobre lar
Tinha com quem conversar
E fugir da solidão.
 
Quando PINÓQUIO falou
Papai, papai, meu papai
A alegria foi tanta
Que GEPETO quase cai,
Não pensou nem um momento
Que um bom acontecimento
Coisa má também atrai.
 
O bonequinho que trouxe
Tanto motivo pra rir
Tentando por entes maus
Principiou a mentir
Mas do tanto que mentia
Seu narizinho crescia
Para assim o reprimir.
 
PINÓQUIO não conseguia
Deixar de mentir, portanto
Quando mentia um tantinho
O nariz, pra seu espanto
Parece que percebia
E em revide crescia
Um tanto e mais outro tanto.
 
PINÓQUIO em vez da escola
Vagava pela cidade
E junto a más companhias
Fazia “perversidade”,
Trocando tapas e murros
Parou na Terra dos burros
Onde houve uma novidade.
 
Sem que nem mais e sem ter
Explicação convincente
O boneco de menino
Tomou forma diferente
Pelo que havia feito
Estava tomando o jeito
De burro em lugar de gente.
 
No lugar das pernas fortes
Nasceram quatro patinhas,
Nariz chato, rosto longo,
Corpo peludo, orelhinhas
Para se “burrificar”
Principiou a zurrar
E pastar ervas daninhas.
 
PINÓQUIO em forma de burro
Foi viver no picadeiro
De um circo mambembe onde
Divertia o mundo inteiro,
Por fim, há! Que desaforo
Queriam curtir-lhe o couro
Para fazer um pandeiro.
 
Milagrosamente escapa
Desse destino cruel
Mas é atirado ao mar
E sofre um novo revel;
Os peixes com fome estão
Ele para refeição
Vai servir bem no papel.
 
Nesse ínterim se transforma
Em boneco novamente
Nada pra salvar a vida
Mas um tubarão valente
Com uma fúria tamanha
Ao bonequinho abocanha
Pra ser seu almoço quente.
 
Lá dentro do tubarão
Na penumbra, quase preto
PINÓQUIO avistou um vulto,
Quem era o vulto? Prometo
Dizer quem era. Escutai,
Era GEPETO, seu pai,
Ele atirou-se a GEPETO.
 
GEPETO contou-lhe como
Foi parar no tubarão
PINÓQUIO também falou
De tudo e pediu perdão
Foi quando a mão do destino
O fez voltar ser menino
De corpo e de coração.
 
Salvo dos perigos jura
Doravante se portar
Obediente e sincero
Sem a verdade faltar
Com essa promessa boa
GEPETO então o perdoa,
Regressam os dois ao lar.
 
PINÓQUIO volta à escola
Mas a tentação o vence
E troca sua cartilha
Por um ingresso circense
Isso porque em seu cálculo
O fantoche do espetáculo
Ao seu gênero pertence.
 
Depois de um ensaio breve
Integrou-se ao pessoal
Porque a vida no circo
Teve uma atração fatal;
Novamente o bem perdeu
Porque PINÓQUIO esqueceu
A promessa inicial.
 
Será que mencionei
Um grilozinho falante
Que sem PINÓQUIO querer
Era seu acompanhante
E num cri-cri repetido
Lembrava do prometido
Toda hora e todo instante?
 
Foi uma fadinha boa
Que deu o Grilo ao menino
E disse, daqui pra frente
Esse animal pequenino
Vai lembrar os teus deveres
E se o obedeceres
Terás um belo destino.
 
PINÓQUIO disse: Obrigado,
Mas não gostava daquilo
Um espião permanente
Não o deixava tranquilo,
Ao se arrumar pra sair
Por gosto deixou cair
Um peso em cima do Grilo.
 
Depois de PINÓQUIO ter
Praticado ação tão feia
Por causa de umas moedas
Vai terminar na cadeia
Mas não se emenda, o danado,
Mesmo sendo castigado
Por mexer em coisa alheia.
 
De um lado o Bem dá-lhe o braço
Do outro o Mau o ampara,
O Bem aconselha, estude,
O Mau questiona, para
Que serve estudo “mané”
PINÓQUIO meio lelé
Fica no “coroa e cara”.
 
Papa-fogo, dono rude
Do circo ao se deparar
Com PINÓQUIO, o narigudo
Reina o aprisionar
Pra seu circo cacareco
Ter outro artista boneco
Tralhando sem ganhar.
 
PINÓQUIO foi ser mais um
Artista do picadeiro,
Os segredos do trapézio
Isso aprendeu bem ligeiro;
Os outros gostavam dele
Porque distinguiram nele
Mais um novo companheiro.
 
Depois de mil aventuras
Ser preso e quase afogado,
Andar perdido no mundo,
Mentir e ser castigado
PINÓQUIO cansado diz
A culpa é desse nariz
Grande demais e pesado.
 
Caiu em sono profundo
Despertou ouvindo a prosa
Do Grilo ressuscitado
E da voz melodiosa
Da moça de finos traços
Amparado pelos braços
Da fadazinha bondosa.
 
A fada tomou o Grilo
Em sua mão delicada
Deu de presente a PINÓQUIO
Numa frase sussurrada,
Dizendo: Fica contigo
Porque quem não tem amigo
Neste mundo não tem nada.
 
Mas pra manter um amigo
Sem perder sua amizade
Sob qualquer circunstância
Jamais lhe falte a verdade,
Quem não mente e é leal
Tem narizinho normal
Paz, amor, felicidade.
 
A fada, PINÓQUIO, o Grilo
Vão os três ao campo lindo
Ela com seu Condão mágico
Diz a PINÓQUIO sorrindo
Que o mundo pode ser dele
Com a condição que ele
PARE DE VIVER MENTINDO.
 
PINÓQUIO garante a Fada
E ao grilozinho falante
Que pelo que já sofreu
Daquele dia em diante
Com toda sinceridade
Não faltaria a verdade
E estudaria bastante.




Gostou dessa versão em cordel?
Eu adorei!!


Clique no vídeo abaixo e assista a uma animação sobre Pinóquio:





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sexta-feira, 8 de outubro de 2021

CORDEL SOBRE BRINQUEDOS POPULARES

Brinquedos populares
 
(Ana Raquel Campos)
 
Todas as crianças gostam
De um brinquedo ganhar
Sozinha ou acompanhada
De alguém pra poder brincar
Brincando se desenvolvem
Não veem o tempo passar
 
Mas antes de fabricarem
Esses brinquedos que a gente
Compra quando vai à loja
Pra dar a alguém de presente
Existiam outros brinquedos
Usados antigamente
 
Eram os brinquedos feitos
Pelas mãos de um artesão
Que usava materiais
Para a construção
Sucata de todo tipo
Lata, papel, papelão
 
Usava também madeira
Barbante, resto de mola,
Paninho, corda e cortiça
Pra juntar usava cola
Carretel de linha usado
Ou qualquer coisa que embola
 
[...]
 
Com retalhos de tecidos
Se faziam as bonecas
E com linhas o cabelo
Pra não ficarem carecas
Só depois eram bordadas
As carinhas de sapecas
 
Também dava pra fazer
Boneca de papelão
Decalcava o seu contorno
Recortava, e só então
Desenhava os detalhes:
Boca, olho, pé e mão.
 
[...]
 
Pra fazer pipa bem feita
Duas varas tem que ter
Presas em forma de cruz
Papel seda pra envolver
Depois põe a rabiola
E uma linha pra prender
 
Com um pedaço de corda
Temos outra brincadeira
É a corda de pular
Pra criança puladeira
Duas rodam e uma pula
Se brinca dessa maneira
 
[...]
 
Com galhinho de uma árvore
Estilingue você faz
Em cima prende a borracha
Que quando puxa pra trás
Ele atira uma pedrinha
Até onde for capaz
 
Estilingue também pode
Se chamar baleadeira
Tem a forma de um Y
Pra quem tem mira certeira
Treine sua pontaria
Com essa nossa brincadeira
 
[...]
 
A peteca é uma bolinha
Com penas pra enfeitar
Tem formato achatado
E serve para brincar
Batendo debaixo dela
Para ela disparar
 
[...]
 
Os brinquedos populares
São simples de produzir
Até hoje ainda são feitos
Encontrados por aqui
Invente já seu brinquedo
Comece a se divertir.



Clique no vídeo abaixo para saber um pouco mais sobre os brinquedos populares:





Veja no vídeo abaixo como fazer um monstrinho de brinquedo:





Esse vídeo que você acabou de assistir faz parte de uma série chamada "Os brinquedos do Alfredo", que conta, até este momento, com mais de 50 episódios. Cada episódio ensina a fazer um brinquedo diferente! É muito legal! Os vídeos fazem parte do canal Ibab Criança. Você pode se inscrever clicando AQUI para acompanhar todos os vídeos.


Leia também aqui neste blog outros cordéis infantis: Adivinhações em literatura de cordel, A bagunça dos brinquedos e Criança, nossa esperança.