sexta-feira, 15 de outubro de 2021

PINÓQUIO EM LITERATURA DE CORDEL

Pinóquio ou o preço da mentira
 
(Manoel Monteiro)
 
GEPETO, artesão famoso,
Em sua marcenaria
Dava vida a simples tábuas,
Serrava, colava, única
Com tanto amor, tanto afeto,
Que ao fim do objeto
Um filho lhe parecia.
 
As casinhas que fazia,
Burrico, vaca, novilho
Tudo em madeira, e, perfeito,
Com muito amor, muito brilho,
Ganhavam sua afeição,
Mesmo assim seu coração
Sentia a falta de um filho.
 
Queria ouvir estribilho
De menino tagarela
Brincando em frente de casa
Chamando o pai da janela;
Da solidão que insistia
Em fazer-lhe companhia
Queria afastar-se dela.
 
Foi à casinha singela
Do compadre Cerejeira
Outro artesão, seu amigo,
E duma tábua “maneira”
Que lá pôde conseguir
Começou a construir
Um boneco de madeira.
 
Fez o rosto de olhos grandes,
As mãos, os pés e o busto,
A boca, o nariz, as pernas,
Costas e peito robusto,
Os cabelos alourados
Um pouco encaracolados,
Testa ampla, queixo justo.
 
Cada dia o bonequinho
Ganhava um ar de bondade
E mais a mais parecia
Com um guri de verdade,
Para manter um colóquio
GEPETO chamou PINÓQUIO
E deu-lhe a paternidade.
 
O boneco era inquieto
Como as crianças são
Mas ganhando vida deu
Nova vida ao artesão
Que agora em seu pobre lar
Tinha com quem conversar
E fugir da solidão.
 
Quando PINÓQUIO falou
Papai, papai, meu papai
A alegria foi tanta
Que GEPETO quase cai,
Não pensou nem um momento
Que um bom acontecimento
Coisa má também atrai.
 
O bonequinho que trouxe
Tanto motivo pra rir
Tentando por entes maus
Principiou a mentir
Mas do tanto que mentia
Seu narizinho crescia
Para assim o reprimir.
 
PINÓQUIO não conseguia
Deixar de mentir, portanto
Quando mentia um tantinho
O nariz, pra seu espanto
Parece que percebia
E em revide crescia
Um tanto e mais outro tanto.
 
PINÓQUIO em vez da escola
Vagava pela cidade
E junto a más companhias
Fazia “perversidade”,
Trocando tapas e murros
Parou na Terra dos burros
Onde houve uma novidade.
 
Sem que nem mais e sem ter
Explicação convincente
O boneco de menino
Tomou forma diferente
Pelo que havia feito
Estava tomando o jeito
De burro em lugar de gente.
 
No lugar das pernas fortes
Nasceram quatro patinhas,
Nariz chato, rosto longo,
Corpo peludo, orelhinhas
Para se “burrificar”
Principiou a zurrar
E pastar ervas daninhas.
 
PINÓQUIO em forma de burro
Foi viver no picadeiro
De um circo mambembe onde
Divertia o mundo inteiro,
Por fim, há! Que desaforo
Queriam curtir-lhe o couro
Para fazer um pandeiro.
 
Milagrosamente escapa
Desse destino cruel
Mas é atirado ao mar
E sofre um novo revel;
Os peixes com fome estão
Ele para refeição
Vai servir bem no papel.
 
Nesse ínterim se transforma
Em boneco novamente
Nada pra salvar a vida
Mas um tubarão valente
Com uma fúria tamanha
Ao bonequinho abocanha
Pra ser seu almoço quente.
 
Lá dentro do tubarão
Na penumbra, quase preto
PINÓQUIO avistou um vulto,
Quem era o vulto? Prometo
Dizer quem era. Escutai,
Era GEPETO, seu pai,
Ele atirou-se a GEPETO.
 
GEPETO contou-lhe como
Foi parar no tubarão
PINÓQUIO também falou
De tudo e pediu perdão
Foi quando a mão do destino
O fez voltar ser menino
De corpo e de coração.
 
Salvo dos perigos jura
Doravante se portar
Obediente e sincero
Sem a verdade faltar
Com essa promessa boa
GEPETO então o perdoa,
Regressam os dois ao lar.
 
PINÓQUIO volta à escola
Mas a tentação o vence
E troca sua cartilha
Por um ingresso circense
Isso porque em seu cálculo
O fantoche do espetáculo
Ao seu gênero pertence.
 
Depois de um ensaio breve
Integrou-se ao pessoal
Porque a vida no circo
Teve uma atração fatal;
Novamente o bem perdeu
Porque PINÓQUIO esqueceu
A promessa inicial.
 
Será que mencionei
Um grilozinho falante
Que sem PINÓQUIO querer
Era seu acompanhante
E num cri-cri repetido
Lembrava do prometido
Toda hora e todo instante?
 
Foi uma fadinha boa
Que deu o Grilo ao menino
E disse, daqui pra frente
Esse animal pequenino
Vai lembrar os teus deveres
E se o obedeceres
Terás um belo destino.
 
PINÓQUIO disse: Obrigado,
Mas não gostava daquilo
Um espião permanente
Não o deixava tranquilo,
Ao se arrumar pra sair
Por gosto deixou cair
Um peso em cima do Grilo.
 
Depois de PINÓQUIO ter
Praticado ação tão feia
Por causa de umas moedas
Vai terminar na cadeia
Mas não se emenda, o danado,
Mesmo sendo castigado
Por mexer em coisa alheia.
 
De um lado o Bem dá-lhe o braço
Do outro o Mau o ampara,
O Bem aconselha, estude,
O Mau questiona, para
Que serve estudo “mané”
PINÓQUIO meio lelé
Fica no “coroa e cara”.
 
Papa-fogo, dono rude
Do circo ao se deparar
Com PINÓQUIO, o narigudo
Reina o aprisionar
Pra seu circo cacareco
Ter outro artista boneco
Tralhando sem ganhar.
 
PINÓQUIO foi ser mais um
Artista do picadeiro,
Os segredos do trapézio
Isso aprendeu bem ligeiro;
Os outros gostavam dele
Porque distinguiram nele
Mais um novo companheiro.
 
Depois de mil aventuras
Ser preso e quase afogado,
Andar perdido no mundo,
Mentir e ser castigado
PINÓQUIO cansado diz
A culpa é desse nariz
Grande demais e pesado.
 
Caiu em sono profundo
Despertou ouvindo a prosa
Do Grilo ressuscitado
E da voz melodiosa
Da moça de finos traços
Amparado pelos braços
Da fadazinha bondosa.
 
A fada tomou o Grilo
Em sua mão delicada
Deu de presente a PINÓQUIO
Numa frase sussurrada,
Dizendo: Fica contigo
Porque quem não tem amigo
Neste mundo não tem nada.
 
Mas pra manter um amigo
Sem perder sua amizade
Sob qualquer circunstância
Jamais lhe falte a verdade,
Quem não mente e é leal
Tem narizinho normal
Paz, amor, felicidade.
 
A fada, PINÓQUIO, o Grilo
Vão os três ao campo lindo
Ela com seu Condão mágico
Diz a PINÓQUIO sorrindo
Que o mundo pode ser dele
Com a condição que ele
PARE DE VIVER MENTINDO.
 
PINÓQUIO garante a Fada
E ao grilozinho falante
Que pelo que já sofreu
Daquele dia em diante
Com toda sinceridade
Não faltaria a verdade
E estudaria bastante.




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