sexta-feira, 23 de outubro de 2020

ALADIM EM LITERATURA DE CORDEL

História de Aladim e a Lâmpada maravilhosa - (TRECHOS)
(Patativa do Assaré)

Na cidade de Bagdá
quando ela antigamente
era a cidade mais rica
das terras do Oriente
deu-se um caso fabuloso
que apavorou muita gente

Nessa cidade morava 
uma viúva de bem
paciente e muito pobre
não possuía um vintém
dentro da sua choupana
sem falar mal de ninguém

Vivia bem satisfeita
nessa pobreza sem fim
tendo só um filho único
com o nome de Aladim
que apesar de ser travesso
ninguém lhe achava ruim

[...]

Aladim um certo dia
pensando na sua vida
achou que estava fazendo
uma existência perdida
de causar muito desgosto
à sua mãe querida

Chegando-se a ela disse
um tanto contrariado:
mamãe, perdoe os desgostos
que eu já tenho lhe causado
garanto que hoje em diante
hei de viver empregado

[...]

Da África tinha chegado
por aquele mesmo ano
um velho misterioso
de aspecto desumano
a quem o povo chamava:
"O Feiticeiro Africano"

Era um grande necromante
que de tudo conhecia
com o segredo da arte
de sua feitiçaria
viu que perto de Bagdá
um grande tesouro havia

[...]

O feiticeiro africano
com Aladim se encontrou
dos modos do rapazinho
ele muito se agradou
aproximando-se dele
desta forma lhe falou:

Se quiser eu lhe protejo
faça o favor de me ouvir
lhe farei feliz e rico
se com gosto me servir
não sofrerá mais pobreza
durante enquanto existir

Aladim lhe respondeu:
disponha do seu criado
estarei às suas ordens
para fazer qualquer mandado
contanto que o senhor
me deixe recompensado

Inda disse o africano:
tenha confiança em mim;
foi depressa em uma loja
trouxe uma peça de brim
e de especial fazenda
trajou-se o moço Aladim

Se afastaram da cidade
cada qual mais satisfeito
até que ambos chegaram
num vale bastante estreito
foi nesse dito lugar
onde parou o sujeito

[...]

Aladim morto de medo
olhava assombradamente
o pobre que até ali
ainda estava inocente
notou que dum feiticeiro
achava-se dependente

Ali tratou de correr
deixando o seu camarada
mas de surpresa o velho
deu-lhe uma grande pancada
que o mesmo caiu por terra
sem dar sentido a nada

O feiticeiro gritou-lhe:
miserável criatura!
tu não me juraste fé?
não quebres a tua jura
tira aquela grande pedra
ali daquela abertura

Na pedra havia ligado
um anel de ferro grosso
no qual pegou com as mãos
o obediente moço
que com o menor impulso
moveu o grande colosso

[...] 

O feiticeiro ordenou-lhe
agora tens de descer
já que me juraste fé
tu tens que me obedecer:
e pegou a ensinar-lhe
com devia ser

Primeiro tu passarás
por três salas asseadas
que de preciosidades 
acham-se todas ornadas
e por um belo clarão
todas três iluminadas

Passe por todas depressa
sejas correto, Aladim
e bem na terceira sala
quando chegares no fim
verás uma porta ao lado
que entra para um jardim

No centro deste jardim
encontrarás com certeza
um belo pórtico de mármore
feito com muita beleza
em um nicho desse pórtico
tem uma lâmpada acesa

Segura nela de leve
depois de ter apagado
derrama dela o azeite
e voltarás bem apressado
fazendo como lhe digo
serás bem recompensado

[...]

Encontrou naquele sítio
toda sorte de fruteiras
o vento soprava brando
entre as esbeltas mangueiras
sussurrando mansamente
nos galhos das laranjeiras

Bem no centro do jardim
o tal nicho ele encontrou
do qual tirando a lâmpada
com cuidado a apagou
e derramando o azeite,
na algibeira guardou

E saiu pelo jardim
andando mui distraído 
do feiticeiro africano
estava quase esquecido
ligando pouca importância
do que tinha prometido

[...]

O velho sem paciência
olhou da boca da fenda
chamando por Aladim
gritando com voz horrenda:
anda depressa, maldito
dá-me logo essa encomenda!

Aladim não respondeu
ouviu e ficou calado
do feiticeiro africano
queria fica vingado
devido à grande pancada
que este havia lhe dado

[...]

O feiticeiro africano
vendo que estava logrado
fechou a porta da gruta
raivoso desesperado
deixando o pobre Aladim
na caverna sepultado

[...] 

Três dias ele passou
errando na cova escura
sem achar naquele ermo
uma pequena abertura
sofrendo com paciência
sua cruel desventura

No fim do terceiro dia
quase não podendo andar
veio-lhe naquela hora
a lembrança de rezar
ali mesmo ajoelhou-se
e começou a orar

No momento em que ele 
fazia a sua oração
casualmente moveu-se
na presente ocasião
o anel que ele trazia
no dedo mínimo da mão

Em mover o dito anel
que tinha no dedo seu
de uma bela claridade
aquela gruta se encheu
e uma visão horrenda
junto dele apareceu

Essa visão era um gênio
que o anel obedecia
se movendo ele no dedo
o gênio aparecia
e tudo que se mandasse
ele depressa fazia

A visão chegou e disse:
menino, não tenhas medo
que eu sou o gênio escravo
do anel que tens no dedo
o que mandar-me que eu faça
eu te farei muito cedo

Aladim aproveitando
aquela oportunidade
disse ao gênio: sendo assim
leva-me para a cidade
à casa de minha mãe
é esta a minha vontade

[...]

A sua mãe no princípio
quase nada acreditou
mas quando os frutos de vidro
e a lâmpada ele mostrou
da sua história toda
ela nada duvidou

Aladim disse: eu agora 
vou estas coisas vender
para ver se algum dinheiro
com elas posso obter
e assim mais alguns dias
teremos de que viver

Disse a velha: para isso
não acharás comprador
somente esta lâmpada velha
pode ter algum valor
vou limpá-la para dar-lhe
um preço superior

Assim que a viúva estava
esse trabalho fazendo
apareceu de repente
um gênio alto e horrendo
que com um gesto espantoso
foi desta forma dizendo:

- Eu sou o gênio da lâmpada
pois vivo sujeito a ela
disposto a obedecer
a quantos pegarem nela
o que quiseres que eu faça
farei com toda cautela

A viúva ouvindo isto
deu-lhe logo um pensamento
Aladim pegou na lâmpada
aproveitando o momento
para exigir do gênio
o que tinha o pensamento

[...]

O que Aladim deve ter pedido ao gênio da lâmpada?
A partir daí ele irá viver muitas aventuras!!
Mas para saber o que irá acontecer, você terá que adquirir o livro.




Quem é o cordelista??


Fonte: pensador.com


Patativa do Assaré foi um repentista e poeta popular do nordeste brasileiro. Embora seu verdadeiro nome fosse Antônio Gonçalves da Silva, recebeu o pseudônimo de Patativa pelo fato de o seu canto ser parecido com o canto desse pássaro; e Assaré em referência à sua cidade natal, que fica no estado do Ceará. Nasceu no dia 05 de março de 1909 e morreu no dia 08 de julho de 2002, na mesma cidade. Apesar de semianalfabeto, Patativa do Assaré publicou diversas obras, cujas composições partiam da oralidade. Por esta razão, uma de suas marcantes características é a linguagem proveniente da diversidade linguística do nordestino conhecedor de poucas letras, mas repleta de crítica e ironia. Alguns de seus poemas mais conhecidos são: "Triste partida", "Cante lá que eu canto cá", "Vaca estrela e boi fubá", "ABC do nordeste flagelado", entre outros.

Será que a história de Aladim, recontada por Patativa do Assaré, é igual ou diferente da versão que conhecemos? Clique no vídeo abaixo e confira.




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Um comentário:

  1. Boa noite, primeiramente queria dar os parabéns e agradecer pelo belíssimo blog. Queria tirar uma dúvida. Por que em alguns cordeis, como neste, você coloca apenas trechos e em outros coloca todo o cordel? isso não é uma crítica não tá, é só por curiosidade mesmo. Abraços!

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