sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

CORDELENDO DESEJA AOS SEUS LEITORES UM FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO ANO NOVO

UM PRESENTE DE NATAL

Papai Noel, na noite que passou,
Não mandou meu presente e eu chorei tanto,
Que minha mãe pra consolar meu pranto,
Já sem poder falar, também chorou.

- Eu creio, filho, que ele não gostou
Das peraltices que tens feito, enquanto,
Eu me quedei, resignado a um canto,
Curtindo a dor que o fato me causou.

- A minha roupa, mãe, rasgada assim...
Papai Noel nem se lembrou de mim?
No outro Natal não vou pedir mais nada.

Somente ao meu vizinho, que é normal,
Se receber presente de Natal,
Mandar pra mim sua roupinha usada.

(Jaime Araújo, poeta patoense)


"Os magos", xilogravura de Ciro Fernandes, 2004


Como muitos sabem, este blog foi criado no ano de 2016 com o intuito de ser uma ponte entre a literatura de cordel e os alunos de um projeto de extensão chamado "Cordelendo", o qual eu coordenava. Por motivos superiores o projeto acabou e eu, sem ânimo, passei alguns anos sem postar quase nada. No final do ano passado retomei os trabalhos do blog, mas nesse ano de 2020 consegui me dedicar muito mais, talvez por ter ficado mais tempo em casa, trabalhando em home office, devido à pandemia e ao isolamento social.

Ter passado horas e horas pesquisando sobre literatura de cordel, lendo clássicos, bem como novos folhetos... ter conhecido cordelistas que eu não conhecia... ter admirado muita xilogravura... ter procurado conhecer os poetas da minha cidade, Patos - PB... tudo isso me deixou muito satisfeita.

Muito obrigada a todos vocês que constantemente visitam o blog (só este ano tivemos mais de 30 mil acessos), compartilham as postagens e interagem conosco.


Gratidão!


Desejo a todos um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo!
Continuaremos juntos em 2021, se Deus quiser!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

LITERATURA PATOENSE: A POESIA DE JOSÉ ROMILDO DE SOUSA

SOU


Sou como o amor: puro e sincero
a lágrima: irremediável e passageira
o mar: salgado e rebelde
a dor: profunda e mortífera
a lua: límpida e invejada
o ferro: forte e resistente
a solidão: amarga e insípida
a brisa: mansa e acolhedora
o dia: agitado e barulhento
a vida: crente na vinda da morte.

Sou assim como sou,
enquanto existirem razões para assim ser.

DESEJO


Um desejo
incontido
me invade
só em visualizar
a tua imagem
viçosa e bela.

MEU VERBO: PARADOXO EXISTENCIAL


Meu verbo vai muito além de mim,
de você
da cidade,
da montanha,
do amor,
do ódio,
da paz,
da guerra,
da vida,
da morte.

Meu verbo... mundo meu!

Meu verbo encontra guarita no que sinto por você,
no que sentes por mim,
nas flores perfumadas,
no trânsito interditado,
na aversão pessoal,
alumiar das estrelas,
na febre amarela,
nos direitos humanos,
no concorrido féretro,
no cotidiano esperançoso.

Com meu verbo edifico o mundo!



Fonte: ihgp

Gostou dos poemas de José Romildo de Sousa?
Qual deles você mais gostou?


sexta-feira, 20 de novembro de 2020

O CEGO NO CINEMA

(José Soares)

Um mudo disse a um mouco
Que lembra quando nasceu.
O mouco disse também
Que um aleijado correu.
O cego disse que viu
Quando um defunto morreu.

O mudo,  cego e o mouco,
Cada um com seu problema.
Os três então se uniram
Pra resolver o dilema.
E depois se encaminharam
A uma sessão de cinema.

Foram ao cinema Glória
Que não fica muito além,
E quando chegou a vez
Do cego pagar também,
Ele disse: - Eu vou pagar
Com uma nota de cem!

Quando a moça demorou
Para trocar o dinheiro
O cego abriu o bocão
E disse pro companheiro:
- Uma velha parideira
Pare muito mais ligeiro!

Pareciam três babacas
Cego, o mudo e o mouco,
Três figuras impolutas
Dois otários e um baiôco.
Ouvindo a conversa deles
Eu me ri que fiquei rouco.

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

ADIVINHAÇÕES EM LITERATURA DE CORDEL

O que é o que é? (Trechos)

(Abdias Campos)

"Entra n'água e não se molha":
Responda-me se souber
Pense ligeiro, medite
Para acertar o que é
Que já na próxima estrofe
Dou-lhe a resposta de fé

Se não souber eu lhe digo
A resposta verdadeira
Acertou quem disse: sombra
Essa é a nossa brincadeira
Pois quando eu lhe perguntar
Já responda de primeira

"O que é que cai em pé
Mas quando corre é deitada"?
Antes de ver a resposta
Que já está preparada
Responda o que imaginou
Só não vale dizer nada

Quem respondeu que é a vida
Na vida não acertou
Quem respondeu ventania
Com o vento não passou
Mas se respondeu a chuva
Resposta certa marcou

"O que quando entra na casa
Fica do lado de fora"?
Dê-me a resposta correta
E me fale sem demora
Que para a pergunta feita
A resposta sai na hora

Normalmente ele é pequeno
Pode ser redondo ou não
É de grande utilidade
Manuseia-se com a mão
Estamos falando aqui
Do importante botão

[...]

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

ALADIM EM LITERATURA DE CORDEL

História de Aladim e a Lâmpada maravilhosa - (TRECHOS)
(Patativa do Assaré)

Na cidade de Bagdá
quando ela antigamente
era a cidade mais rica
das terras do Oriente
deu-se um caso fabuloso
que apavorou muita gente

Nessa cidade morava 
uma viúva de bem
paciente e muito pobre
não possuía um vintém
dentro da sua choupana
sem falar mal de ninguém

Vivia bem satisfeita
nessa pobreza sem fim
tendo só um filho único
com o nome de Aladim
que apesar de ser travesso
ninguém lhe achava ruim

[...]

Aladim um certo dia
pensando na sua vida
achou que estava fazendo
uma existência perdida
de causar muito desgosto
à sua mãe querida

Chegando-se a ela disse
um tanto contrariado:
mamãe, perdoe os desgostos
que eu já tenho lhe causado
garanto que hoje em diante
hei de viver empregado

[...]

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

A BELA E A FERA EM LITERATURA DE CORDEL

A bela e a fera: versão em cordel
(Sírlia Lima)

Há muito tempo atrás
Havia um mercador
Que tinha três filhas
As tratava com amor
Mas preferia a Bela
Que era feita de esplendor

O mercador viajaria
Para um país distante
Para cada uma trarei um presente
Disse o pai ofertante
A mais velha pediu
Um colar de brilhante

A filha do meio pediu
Um colar de ouro
Bela disse ao pai
Você é meu tesouro
Volte em segurança
Com o seu chapéu de couro

O pai de Bela indagou
de ela respondeu toda prosa
o que devo trazer para ti?
Traga apenas uma rosa!
Bela é moça simples
Nunca foi vaidosa!

O mercador viajou
O presente foi comprar
Para as filhas mais velhas
Comprou corrente e colar
Mas a rosa de Bela
Não conseguiu encontrar

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

A BAGUNÇA DOS BRINQUEDOS

(Mariane Bigio)

No baú da minha casa
Escutei um burburinho
Parecia uma conversa
Fui chegando de mansinho
E colei o meu ouvido
Na tampa do bauzinho

Então abri uma brecha
Para poder descobrir
O que estava acontecendo
Para ver além de ouvir
E pensei comigo mesma:
“O baú eu vou abrir!”

Qual não foi minha surpresa
Quando vi a discussão
Entre um monte de brinquedos
Na maior agitação!
Uns gritavam, outros riam
Era grande a confusão!

Logo vi Mané Gostoso
Fazendo uma estripulia
Dizendo: “sou acrobata!
Muita gente me aplaudia!
Posso até virar atleta!”
E alguém gritou: “mái pia!”

Depois o Pião falou:
E eu sou equilibrista
Rodo, rodo e não caio
Sou melhor e não insista
Nessa caixa de brinquedos
Eu sou verdadeiro artista!

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

LITERATURA PATOENSE: A POESIA DE JOSÉ MOTA

PALAVRAS DO GÓLGOTA II*


No Gólgota o retrato da humilhação.
"E ele foi contado entre os malfeitores".
No madeiro suportou todas as dores,
Revigorado pelo poder da oração.

O bom ladrão, humilde, lhe pediu perdão.
E Jesus respondeu: Em verdade, eu te digo,
Fez pausa e continuou: hoje estarás comigo
No paraíso " estar com ele" é a salvação.

O respeitoso ladrão o tratou como um Rei
Naquele tempo, ambíguo, Pilatos era a lei,
Mas Jesus o caminho, a verdade e a vida.

Repartiram suas roupas, tirando a sorte,
Só não sabiam que até depois da morte
Ele era o remédio para todas as feridas.

                                                                                 *Em verdade, eu te digo:
                                                    Hoje estarás comigo no paraíso! (Lc 23,43)


PALAVRAS DO GÓLGOTA III*


Próximo ao madeiro estava Maria a chorar
E um pouco ao lado o discípulo querido.
"Ele" entendia que naquele instante sofrido
Ainda teria um grande presente para dar...

De cima da tosca cruz, Jesus baixou o olhar.
E vendo a sua mãe: Mulher, aí está o teu filho!
Do que estava escrito não podia sair do trilho.
Porque não havia maior presente do que amar.

Quem sabe uma proclamação, da maternidade
Muito espiritual de Maria, à humanidade?
- Aí está a tua mãe! Disse, olhando, para João.

E desde aquele dia ele a recebeu em sua casa.
Foi, talvez, naquele momento que ganhou asa
Para escrever o Evangelho da salvação.

                                                                           *Mulher, aí está o teu filho!
                                                                         Aí está a tua mãe! (Jo 19, 26)


PALAVRAS DO GÓLGOTA V*


Sabendo que tudo estava consumado,
E que para que se cumprisse a Escritura,
Com um gesto de humildade, murmura:
- Tenho sede. Lamenta o crucificado.

Que "sede" poderia ter o filho amado,
Com seu olhar de misericórdia e ternura,
Exceto "sede" de desvelo à criatura?
Cristo ultimava por seu amor exagerado.

A pobre multidão aguardava um milagre.
Próximo à cruz um jarro cheio de vinagre
Amenizava-lhe o sofrimento da dor.

O Messias chegava ao final da sua missão.
Depois, sepulcro vazio da ressurreição...
Vitória da vida após a morte do Salvador.

                                                         *Tenho sede! (Jo 19, 28)



Fonte: ihgp

José Mota Victor é engenheiro civil, político, escritor, poeta e teatrólogo, nascido na cidade de Patos - Paraíba, no ano de 1958. Algumas de suas obras são: "A Cruz da Menina", "O louro do Jabre", "As sete palavras de Cristo na cruz e outros sonetos", "Ducks City: uma cidade muito encantada não muito longe daqui" e "Ani Ohev Otach".


Quer conhecer um pouco mais sobre José Mota?


Os vídeos abaixo tratam de uma entrevista que o poeta concedeu ao jornalista Wandecy Medeiros, apresentador de um programa na Rádio Espinharas de Patos.

Parte I




Parte II




Parte III




Parte IV




Parte V





Gostou de conhecer um pouco mais sobre este grande poeta?
Gostou dos seus poemas?
Qual deles você gostou mais?
Conte-nos, deixando o seu comentário.


Leia também neste blog: Literatura patoense: a poesia de Balila Palmeira e Literatura patoense: a poesia de Flávio Sátiro.

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

CLÁSSICOS DO CORDEL: PROEZAS DE JOÃO GRILO (PARTE II)

(Para ler o início, clique em: Proezas de João Grilo, parte I)

João Grilo disse: estou pronto
Pode dizer a primeira
Se acaso sair-me bem
Venha a segunda e a terceira
Venha a quarta e a quinta
Talvez o Grilo não minta
Diga até a derradeira.

Perguntou: - Qual o animal
Que mostra mais rapidez
Que anda de quatro pés
De manhã por sua vez
Ao meio-dia com dois
Passando disto depois
À tarde anda com três?

O Grilo disse: é o homem
Que se arrasta pelo chão
No tempo que engatinha
Depois toma posição
Anda em pé bem seguro
Mas quando fica maduro
Faz três pés com o bastão

O sultão maravilhou-se
Com a sua resposta linda
João disse: - Pergunte outra
Vou ver se respondo ainda.
A segunda o sultão fez
João Grilo daquela vez
Celebrizou sua vinda.

— Grilo, você me responda
Em termos bem divididos
Uma cova bem cavada
Doze mortos estendidos
E todos mortos falando
Cinco vivos passeando
Trabalham com três sentidos.

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

CLÁSSICOS DO CORDEL: PROEZAS DE JOÃO GRILO (PARTE I)

Proezas de João Grilo
(João Ferreira de Lima)


João Grilo foi um cristão 
Que nasceu antes do dia
Criou-se sem formosura
Mas tinha sabedoria
E morreu depois da hora
Pelas artes que fazia.

E nasceu de sete meses
Chorou no "bucho" da mãe
Quando ela pegou um gato
Ele gritou: - Não me arranhe,
Não jogue neste animal
Que talvez você não ganhe.

Na noite que João nasceu,
Houve um eclipse na lua,
E detonou um vulcão
Que ainda continua
Naquela noite correu
Um lobisomem na rua.

Assim mesmo ele criou-se
Pequeno, magro e sambudo
As pernas tortas e finas
Boca grande e beiçudo
No sitio onde morava
Dava noticia de tudo.

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

LITERATURA PATOENSE: A POESIA DE BALILA PALMEIRA

QUEM EU SOU?


Neste mundo de glórias,
tristezas, alegrias,
quem eu sou?
Neste mundo de rosas,
espinhos, perfumes, saudades,
quem eu sou?

Se não sei de onde vim,
como estou, para onde vou,
quem eu sou?
Se caminho no vazio,
noite adentro
se mergulho nas nuvens,
quem eu sou?

Se nasci, se vivi noutro tempo
feliz ou sem amor,
quem sou?
Se penso e repenso
mas não sei acrescentar,
quem eu sou?

Essa chama forte, de fogo e amplidão
que de repente assoma porta adentro
é nada mais, nada menos que calor
ela se chama, com certeza, simplesmente amor.

HOMEM INFINITO


É infinito,
mas vive dentro de si
como ostra sem falar
mesmo sabendo, repito
que é infinito.

Infinito na alma
infinito no amor
é homem em espécie,
que pode se transformar
em flor.

Pisa no chão
mas flutua no espaço
tem voo alto
é dono da amplidão
cinge o mundo num abraço.

DESEJOS


Como eu queria ser um pássaro, ave altaneira
voando alto sobre a amplidão
dominando alturas sem fronteira
passageira de céus de lassidão.

Como eu queria a lua pura, como teto
por testemunha de um amor de um fim
dando às estrelas letras do alfabeto
ouvindo lendas com cheiro de alecrim.

Como eu queria ser a flor viçosa
que desabrocha na manhã, cedinho,
vestindo seda no seu corpo, airosa
mandando ao mundo recado de carinho.

Como eu queria sensação de paz ilimitada
um barco a navegar singrando os mares
um porto a me esperar na madrugada
e, alguém falando coisas, não vulgares.

Então eu seria o pelicano emplumado
nadando livre, de uma, a outra margem
na firmeza de um gesto bem ousado
num desejo ardente de mensagem.


a poesia de Balila Palmeira
Fonte: ihgp

Maria Balila Palmeira nasceu em Patos - Paraíba, no dia 13 de março de 1926. É escritora, poetisa e pedagoga. É também fundadora da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba. Devaneios", "Infinito e poesia", "Misticismo e cangaço em Pedra Bonita", "A menina e a boneca", "Destino cruel" e "Dez contas e uma saudade" são algumas de suas obras.

Gostou dos poemas? 
Qual deles você mais gostou?

sexta-feira, 31 de julho de 2020

SE A GENTE COMER ERRADO...

(Marco di Aurélio)

Nosso corpo todo é parte
do chão da mãe natureza
e a gente é o que come
se a gente quiser beleza
tem que respeitar o mundo
em toda sua grandeza.

Se a gente comer errado
ficaremos tão doentes
o corpo ficará feio
podemos perder os dentes
a cara vira careta
e os olhos viram sementes.

As pernas ficarão finas
o nariz todo engelhado
as orelhas amassadas
o dedão encrequilhado
nossa testa bem comprida
e o bucho bem inchado.

A vida ficará curta
pode-se morrer mais cedo
se a gente comer errado
tanto doce como azedo
a morte vem nos buscar
eu mesmo já tou com medo.

A natureza nos dá
tudo que a gente precisa,
e nem vem empacotado
como se embrulha camisa
as frutas tem sua casca
e de papel nem precisa.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

BLOGUEXPOSIÇÃO: A XILOGRAVURA DE J. BORGES

José Francisco Borges, mais conhecido como J. Borges, é um famoso poeta, cordelista e xilogravurista brasileiro, nascido na cidade de Bezerros - PE. Conta com mais de trezentos cordéis e incontáveis xilogravuras. Estas são conhecidas nacional e internacionalmente, e já lhe renderam diversos prêmios e viagens ao exterior para propagar a sua arte. Suas imagens fizeram parte de várias exposições em galerias e museus da Europa e dos Estados Unidos.

Comparado ao pintor Pablo Picasso pelo New York Times, sem dúvida alguma, podemos afirmar que J. Borges é o maior xilogravurista de todos os tempos e sua arte reúne tradição e inovação: tradição na técnica, desenhando direto na matriz, ou seja, em pedaços de madeira, como imburana e louro canela, sem cópia prévia; e inovação, no que diz respeito ao uso das cores, seja pelo vívido colorido, pela sutileza dos tons pastéis ou pela sofisticação de duo ou trio de cores neutras, saindo do monocromático, mas também admirável preto e branco.

Todas as imagens foram capturadas da internet, através do google ou do instagram do xilogravusrista.


Quadrilha Junina


A sereia no mangue


Pau de arara do nordeste


Feira de frutas


Paisagem do sertão 


As tiradeiras de lenha


Luar do sertão


A vida no sertão


Paisagem sertaneja


Iemanjá


Os pássaros


O contador de mentiras


A dança do escandelo


A jardineira


A psicanalista


Lampião e Maria Bonita


A professora


A vida no sertão


Forró dos bichos


Lampião e Maria Bonita


Moça roubada


A vida no sertão 


Anjo da Guia


Frutas de mandacaru


Para adquirir alguma xilogravura, basta entrar em contato com a equipe do xilogravurista, através das redes sociais do Memorial J. Borges. 


Gostou das xilogravuras de J. Borges?

São lindas, não são?

Quais delas você mais gostou?



















sexta-feira, 3 de julho de 2020

COISAS DO SERTÃO EM VERSOS DE CORDEL

SÓ CONHECE ISSO DE FATO QUEM JÁ MOROU NO SERTÃO
(Ramon Medeiros)

Cuscuz com queijo e buchada,
Água num pote de barro,
Boi manso puxando um carro,
Farinha com tripa assada.
Tapioca amanteigada,
Fogo de lenha e carvão,
Arroz de leite e pirão,
Remédio feito de mato.
Só conhece isso de fato
Quem já morou no sertão.

Espora, bota e perneira,
Chocalho, gola e cangalha,
Chapéu de couro ou de palha,
Cabresto, sela e ligeira.
Bisaco com baladeira,
Moinho, prensa e pilão,
Jurema, angico e pinhão,
Cuia que serve de prato.
Só conhece isso de fato
Quem já morou no sertão.

Tejo, tatu e ticaca,
Carão, socó, jaçanã,
Rolinha e arribaçã,
Cascavel e jararaca.
Mãe da lua numa estaca,
Concriz, golado e cancão,
Carcará e gavião,
Galinha, guiné e pato.
Só conhece isso de fato
Quem já morou no sertão.

Gravador e radiola,
Cabaça, bobe e marrafa,
Vara de anzol e tarrafa,
Cantoria de viola.
Chinelo feito de sola
Que não provoca rachão,
Pra livrar os pés do chão
É bom, bonito e barato.
Só conhece isso de fato
Quem já morou no sertão.

Espingarda lazarina,
Arapuca de cipó,
Landuá, fojo e quixó,
Quintal feito de faxina.
Querosene, lamparina,
Candeeiro e lampião
Com pavio de algodão,
E um gato pra pegar rato.
Só conhece isso de fato
Quem já morou no sertão.

Tem rancheira, tem forró,
Xaxado, baião e xote,
Um cheirinho no cangote
Para esquentar o xodó.
E para arroxar o nó,
Pra pegar fogo o salão,
Basta só um vaneirão
Pra desgastar o sapato.
Só conhece isso de fato
Quem já morou no sertão.

Penico, tigela e xita,
Mel feito de rapadura,
Arribaçã na postura,
Um rádio que toca fita.
Uma chaleira bonita,
Pipa, peteca e pião,
Foice, machado e facão,
Baú pra guardar retrato.
Só conhece isso de fato
Quem já morou no sertão.

Mandacaru e faxeiro,
Mês de maio pra Maria,
Quermesse com cantoria,
Xique-xique e juazeiro.
Cavalo, boi e vaqueiro,
Torresmo e arrubacão,
Aguardente com limão,
Caboclo não quebrar trato.
Só conhece isso de fato
Quem já morou no sertão.

Toca-toca e pega-pega,
Brincar de caí no poço,
Vaca que é feita de osso,
Baleada e cabra cega.
Comprar fiado em bodega,
Latada de papelão,
Lata de flandre e tição,
Boneca de artesanato.
Só conhece isso de fato
Quem já morou no sertão.

Cuscuz com toucinho assado,
Almoçar carne na nata,
Com jerimum, com batata,
Arroz da terra e guisado.
Na janta comer picado,
Farofa, graxa e feijão.
Pra dormir: doce com pão
Com queijo coalho nato.
Só conhece isso de fato
Quem já morou no sertão.


Quem é o cordelista?


poeta Ramon Medeiros
Imagem: Facebook


Ramon Medeiros nasceu na cidade de Patos - Paraíba, no dia 20 de abril de 1993, e desde então reside no sítio Mocambo, zona rural patoense. É graduado em Engenharia Florestal e Mestre em Ciências Florestais, e atualmente trabalha como agente de defesa ambiental nas obras de integração do Rio São Francisco, na cidade de Brejo Santo, Ceará. Já escreveu dezenas de cordéis e poemas, dos quais alguns compõem doze coletâneas publicadas em parceria com outros poetas, mas obras unicamente de sua autoria foram apenas duas: "Simplicidade Poética" (2015) e "Simplesmente eu" (2018), ambas de poesia. 

Gostou do cordel??
Conte-nos, deixando o seu comentário.



Leia também aqui neste blog: A mulher que vendeu o marido por R$ 1,99 e O sequestro da galinha e o velório de Rafinha, escritos por cordelistas patoenses.




sexta-feira, 19 de junho de 2020

O CASAL QUE MAIS BRIGAVA NA PARAÍBA DO NORTE

(Antonio Mota)

Aos leitores e leitoras
Gente simpática e forte
Com prazer irei falar
- Fazendo do verso transporte -
Do casal que mais brigava
Na Paraíba do Norte.

Era um casal engraçado
- Se tiver graça discutir -
Ele bruto igual jucá
Ela pior que siri...
Os dois eram parecidos
Apenas no divergir.

Desde quando namoravam
Não se davam muito bem.
Porém se alguém falasse
Que a briga não convém
Os dois logo respondiam:
"Não é da conta de ninguém".

Por haver na Paraíba
- Como havia em Nazaré - 
Dois nomes muito comuns
Eu arrisco dizer até
Que ela era Maria
E ele se chamava Zé.

sexta-feira, 5 de junho de 2020

LITERATURA PATOENSE: A POESIA DE FLÁVIO SÁTIRO

O PASSARINHO E A FLAUTA


No meu jardim
jaz uma flauta.

No meu jardim,
um passarinho.

No meu jardim,
o passarinho soa
e a flauta voa.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

CLÁSSICOS DO CORDEL: O DINHEIRO OU O TESTAMENTO DO CACHORRO

O dinheiro ou o testamento do cachorro
(Leandro Gomes de Barros)

O dinheiro neste mundo
Não há força que o debande
Nem perigo que o enfrente
Nem senhoria que o mande
Tudo está abaixo dele
Só ele ali é o grande.

Ele impera sobre um trono
Cercado por ambição
O chaleirismo a seus pés
Sempre está de prontidão
Perguntando-lhe com cuidado:
- O que lhe falta, patrão?

No dinheiro tem-se visto
Nobreza desconhecida
Meios que ganham questão
Ainda estando perdida
Honra por meio da infâmia
Gloria mal adquirida

Porque só mesmo o dinheiro
Tem maior utilidade
É o farol que mais brilha
Perante a sociedade
O código dali é ele
A lei é sua vontade.

O homem tendo dinheiro
Mata até o próprio pai
A justiça fecha os olhos
A polícia lá não vai
Passam-se cinco ou seis meses
Vai indo, o processo cai.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

LEANDRO GOMES DE BARROS: BREVE BIOGRAFIA

Fonte: wikipedia

Leandro Gomes de Barros, filho de José Gomes de Barros e Adelaide Xavier de Farias, nasceu provavelmente no dia 19 de novembro de 1865 (ou 1860), na Fazenda Melancia, em Pombal - Paraíba, hoje pertencente ao município de Paulista. Viveu nesse lugar parte da sua infância, quando por volta de 10 anos de idade, após o falecimento do seu pai, mudou-se para o município de Teixeira - PB, com sua mãe, seus irmãos (Daniel, Adonias, Cândida e Raimunda) e seus avós maternos (Manoel e Antônia). Nesse outro lugar, morou com o seu tio materno, o padre Vicente Xavier de Farias, que se tornou tutor de sua família.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

LITERATURA PATOENSE: A POESIA DE TARCÍSIO CÉSAR

DA SEXTA-FEIRA SANTA DO ANO AINDA DE TREVAS DE 1973


Dor de ver-te pendido do madeiro
como um ladrão sequestrador de almas.
Asas abertas são teus braços, calmas,
na aceitação que reza o teu letreiro.


Morto como a paisagem que morria
dos teus olhos na luz arrebatados.
São olhos que perdoam e não perdoados
teus suplícios foram: longa é a via.

que haverá de seguir o teu perdão
por terras, mares, povos apartados,
em meu silêncio e minha solidão,

no vinho da taverna condenada,
em torno à mesa, ao se cortar o pão,
no poste da liberdade ameaçada.