sexta-feira, 3 de julho de 2020

COISAS DO SERTÃO EM VERSOS DE CORDEL

SÓ CONHECE ISSO DE FATO QUEM JÁ MOROU NO SERTÃO
(Ramon Medeiros)

Cuscuz com queijo e buchada,
Água num pote de barro,
Boi manso puxando um carro,
Farinha com tripa assada.
Tapioca amanteigada,
Fogo de lenha e carvão,
Arroz de leite e pirão,
Remédio feito de mato.
Só conhece isso de fato
Quem já morou no sertão.

Espora, bota e perneira,
Chocalho, gola e cangalha,
Chapéu de couro ou de palha,
Cabresto, sela e ligeira.
Bisaco com baladeira,
Moinho, prensa e pilão,
Jurema, angico e pinhão,
Cuia que serve de prato.
Só conhece isso de fato
Quem já morou no sertão.

Tejo, tatu e ticaca,
Carão, socó, jaçanã,
Rolinha e arribaçã,
Cascavel e jararaca.
Mãe da lua numa estaca,
Concriz, golado e cancão,
Carcará e gavião,
Galinha, guiné e pato.
Só conhece isso de fato
Quem já morou no sertão.

Gravador e radiola,
Cabaça, bobe e marrafa,
Vara de anzol e tarrafa,
Cantoria de viola.
Chinelo feito de sola
Que não provoca rachão,
Pra livrar os pés do chão
É bom, bonito e barato.
Só conhece isso de fato
Quem já morou no sertão.

Espingarda lazarina,
Arapuca de cipó,
Landuá, fojo e quixó,
Quintal feito de faxina.
Querosene, lamparina,
Candeeiro e lampião
Com pavio de algodão,
E um gato pra pegar rato.
Só conhece isso de fato
Quem já morou no sertão.

Tem rancheira, tem forró,
Xaxado, baião e xote,
Um cheirinho no cangote
Para esquentar o xodó.
E para arroxar o nó,
Pra pegar fogo o salão,
Basta só um vaneirão
Pra desgastar o sapato.
Só conhece isso de fato
Quem já morou no sertão.

Penico, tigela e xita,
Mel feito de rapadura,
Arribaçã na postura,
Um rádio que toca fita.
Uma chaleira bonita,
Pipa, peteca e pião,
Foice, machado e facão,
Baú pra guardar retrato.
Só conhece isso de fato
Quem já morou no sertão.

Mandacaru e faxeiro,
Mês de maio pra Maria,
Quermesse com cantoria,
Xique-xique e juazeiro.
Cavalo, boi e vaqueiro,
Torresmo e arrubacão,
Aguardente com limão,
Caboclo não quebrar trato.
Só conhece isso de fato
Quem já morou no sertão.

Toca-toca e pega-pega,
Brincar de caí no poço,
Vaca que é feita de osso,
Baleada e cabra cega.
Comprar fiado em bodega,
Latada de papelão,
Lata de flandre e tição,
Boneca de artesanato.
Só conhece isso de fato
Quem já morou no sertão.

Cuscuz com toucinho assado,
Almoçar carne na nata,
Com jerimum, com batata,
Arroz da terra e guisado.
Na janta comer picado,
Farofa, graxa e feijão.
Pra dormir: doce com pão
Com queijo coalho nato.
Só conhece isso de fato
Quem já morou no sertão.


Quem é o cordelista?


poeta Ramon Medeiros
Imagem: Facebook


Ramon Medeiros nasceu na cidade de Patos - Paraíba, no dia 20 de abril de 1993, e desde então reside no sítio Mocambo, zona rural patoense. É graduado em Engenharia Florestal e Mestre em Ciências Florestais, e atualmente trabalha como agente de defesa ambiental nas obras de integração do Rio São Francisco, na cidade de Brejo Santo, Ceará. Já escreveu dezenas de cordéis e poemas, dos quais alguns compõem doze coletâneas publicadas em parceria com outros poetas, mas obras unicamente de sua autoria foram apenas duas: "Simplicidade Poética" (2015) e "Simplesmente eu" (2018), ambas de poesia. 

Gostou do cordel??
Conte-nos, deixando o seu comentário.



Leia também aqui neste blog: A mulher que vendeu o marido por R$ 1,99 e O sequestro da galinha e o velório de Rafinha, escritos por cordelistas patoenses.




Nenhum comentário:

Postar um comentário