Cordel do mau vizinho
(Jesus Rodrigues
Sindeaux)
Vinde oh musas
mensageiras
Que enfeitam meu caminho
Tragam além da inspiração
Uma figa e o meu pinho,
Pra que eu possa relatar
E logo após me livrar
Da saga do mau vizinho.
Sou poeta popular
Não quero ser orgulhoso
Não me julgo o mais esperto
Nem tampouco corajoso
Não critico o desvalido
Rogo pelo excluído
Ao nosso Deus poderoso.
Não quero ser
vantajoso
Só relato o que convém
Tem gente que já foi rica
Hoje é pobre e nada tem
Porém não posso aprovar
Ou então acobertar
Mau vizinho de ninguém.
Deus está lá no além
É o nosso Pai salvador
Sendo Ele o pai dos pais
Dá perdão ao pecador
Qualquer um que se humilhar
Ele pode perdoar
Mesmo sendo um malfeitor.
O sujeito mau vizinho
Tem um instinto ruim
Gosta de perversidade
Tem espírito de Caim
É terrível e violento
É nocivo, é peçonhento
Sempre só procede assim.
Da praga do mau
vizinho
Cada qual que se defenda
Tem mau vizinho na rua
Mau vizinho na fazenda
Tem mau vizinho na estrada
Fazendo mais presepada
E eu anotando na agenda.
Tem mau vizinho em
contenda
Perverso, vil, orgulhoso
Tem mau vizinho afobado
Tem mau vizinho teimoso
Que gosta de confusão
Gosta muito de questão
E muito ganancioso.
Tem deles astucioso
Tá errado e quer tá certo
Também não é bom vizinho
Eu chamo de “mora perto”
É teimoso, intolerante
É babaca e arrogante
Só ele é quem é esperto.
Mau vizinho no
telhado
Destruindo a casa alheia
Quebrando telha das casas
Cabra assim merece é peia
Se o dono for reclamar
Ele se enche de ar
Mostrando uma cara feia.
Tem mau vizinho na
aldeia
Do Canindé ao Ipú
Na Serra de Pedra Branca
Ao sertão do Iguatu
Fazendo maior pagode
Inventa de criar bode
Só para fazer sururu.
Mesmo pobre pra
chuchu
Nunca deixa de ser ruim
Queima até vara de cerca
Toca fogo no capim
E destrói a natureza
Aumenta mais a pobreza
Pois só quer mesmo é fim.
Mau vizinho
fuleiragem
Que gosta de estripulia
Incomoda a vizinhança
Gosta de “mundiçaria”
Liga som por desacato
Sabe ser ruim e chato
Perturbando noite e dia.
É mestre na covardia
É um sujeito safado
É demais audacioso
Gosta de comprar fiado
É um tremendo enrolão
Chama a todos de irmão
É crente falsificado.
Mau vizinho
endiabrado
Rouba colmeia de abelha
Abre buraco na cerca
Joga culpa na ovelha
Tudo isso eu analiso
Ele só dá prejuízo
Cabra de cara de telha.
Pra ele não tem
parelha
É mau vizinho de primeira
Entra no cercado alheio
Roubando até a madeira
Quer ser latifundiário
O maior proprietário
Dessa região inteira.
Conversa muita
besteira
Incomoda a vizinhança
Ele sai de casa em casa
Contando muita lambança
Se julga o dono do mundo
Pra José ou pra Raimundo
Pra Maria ou pra Constança.
Sujeito sem confiança
É mestre no cambalacho
Mau vizinho sem extrema
De terra, cerca e riacho
Dizendo aqui tudo é meu
Aqui quem manda sou eu
Porque sou um velho macho!
Todo cheio de relaxo
Se reúne e tem contato
Dizendo sou entendido
Sou sócio do sindicato
Sou quase uma “otoridade”
Do sítio para cidade
Eu digo, faço e relato.
É nojento e
linguarudo
Metido e muito zangado
Só quer ser um cangaceiro
Com a “parabela” de lado
O mau vizinho é um perigo
Se finge sempre de amigo
É um caboclo safado.
É muito mal educado
E bastante fofoqueiro
Com mulher é enxerido
Só quer ser o verdadeiro
Diz que só anda na linha
Não passa de um “coxinha”
É tão falso e trapaceiro.
Metido e catimbozeiro
No seu papel principal
Conta história mal contada
Separando até casal
Fala mal de filha alheia
Sua boca vive cheia
De praticar esse mal.
O filho do mau
vizinho
Vai pra beira da estrada
Quando os carros vão passando
Ele joga uma pedrada
Depois que o carro sobra
Numa arriscada manobra
Acha bonita a virada.
Deles que não valem
nada
Tem a mente traiçoeira
Vai lá no cercado alheio
Direto abrir a porteira
Outros chegam lá nas casas
Das galinhas quebram asas
Com quebra de baladeiras.
Tem a mulher mau
vizinha
Que só vive de fuxico
Fala da mulher do pobre
Fala da mulher do rico
Sua língua é uma tesoura
Tal formiga na lavoura
Cortando faz tico tico!
Mau vizinha
linguaruda
No sertão ou na cidade
Incomoda a vizinhança
E toda a sociedade
Da colega tem ciúme
E fala mal do perfume
Na boca só tem maldade.
Não possui felicidade
Quem reside perto dela
Ela toda curiosa
Brecha até pela janela
Critica a pobre vizinha
A chamando de galinha
Fazendo a pior novela.
Não tem quem suporte
ela
Fala de mulher casada
Critica moça donzela
E mulher desmantelada
Até da mulher bonita
A mau vizinha maldita
Dá a sua alfinetada.
Vive sempre
incomodada
Falando da vida alheia
Só ela é que é bonita
Chamando a outra de feia
Xinga pra infernizar
E de tanto azucrinar
Termina levando peia.
Não tem tempo nem pra
ceia
É magra, feia e amarela
Só trata a vizinha mal
Chama a mesma de cadela
Dizendo você não presta
Ainda diz que detesta
A pobre lá da favela.
Fala da Paula e de
Bela
Ninguém vive sossegado
Seu instinto é perigoso
Só pode ser atentado
Mau vizinho é coisa ruim
Falo tim tim por tim tim
É um ente desgraçado.
Neste globo universal
O sofrimento é profundo
Com tanta desigualdade
Que abala todo mundo
Mau vizinho é um mundé
Armado por Lucifé
Um espírito vagabundo.
Para vender meu
livrinho
Rezo, rogo e faço figa
Quem não comprar minha obra
Merece dor de barriga
Um bicho no seu caminho
E que todo mau vizinho
Quando lhe vir lhe persiga.
Que enfeitam meu caminho
Tragam além da inspiração
Uma figa e o meu pinho,
Pra que eu possa relatar
E logo após me livrar
Da saga do mau vizinho.
Não quero ser orgulhoso
Não me julgo o mais esperto
Nem tampouco corajoso
Não critico o desvalido
Rogo pelo excluído
Ao nosso Deus poderoso.
Só relato o que convém
Tem gente que já foi rica
Hoje é pobre e nada tem
Porém não posso aprovar
Ou então acobertar
Mau vizinho de ninguém.
É o nosso Pai salvador
Sendo Ele o pai dos pais
Dá perdão ao pecador
Qualquer um que se humilhar
Ele pode perdoar
Mesmo sendo um malfeitor.
Tem um instinto ruim
Gosta de perversidade
Tem espírito de Caim
É terrível e violento
É nocivo, é peçonhento
Sempre só procede assim.
Cada qual que se defenda
Tem mau vizinho na rua
Mau vizinho na fazenda
Tem mau vizinho na estrada
Fazendo mais presepada
E eu anotando na agenda.
Perverso, vil, orgulhoso
Tem mau vizinho afobado
Tem mau vizinho teimoso
Que gosta de confusão
Gosta muito de questão
E muito ganancioso.
Tá errado e quer tá certo
Também não é bom vizinho
Eu chamo de “mora perto”
É teimoso, intolerante
É babaca e arrogante
Só ele é quem é esperto.
Destruindo a casa alheia
Quebrando telha das casas
Cabra assim merece é peia
Se o dono for reclamar
Ele se enche de ar
Mostrando uma cara feia.
Do Canindé ao Ipú
Na Serra de Pedra Branca
Ao sertão do Iguatu
Fazendo maior pagode
Inventa de criar bode
Só para fazer sururu.
Nunca deixa de ser ruim
Queima até vara de cerca
Toca fogo no capim
E destrói a natureza
Aumenta mais a pobreza
Pois só quer mesmo é fim.
Que gosta de estripulia
Incomoda a vizinhança
Gosta de “mundiçaria”
Liga som por desacato
Sabe ser ruim e chato
Perturbando noite e dia.
É um sujeito safado
É demais audacioso
Gosta de comprar fiado
É um tremendo enrolão
Chama a todos de irmão
É crente falsificado.
Rouba colmeia de abelha
Abre buraco na cerca
Joga culpa na ovelha
Tudo isso eu analiso
Ele só dá prejuízo
Cabra de cara de telha.
É mau vizinho de primeira
Entra no cercado alheio
Roubando até a madeira
Quer ser latifundiário
O maior proprietário
Dessa região inteira.
Incomoda a vizinhança
Ele sai de casa em casa
Contando muita lambança
Se julga o dono do mundo
Pra José ou pra Raimundo
Pra Maria ou pra Constança.
É mestre no cambalacho
Mau vizinho sem extrema
De terra, cerca e riacho
Dizendo aqui tudo é meu
Aqui quem manda sou eu
Porque sou um velho macho!
Se reúne e tem contato
Dizendo sou entendido
Sou sócio do sindicato
Sou quase uma “otoridade”
Do sítio para cidade
Eu digo, faço e relato.
Metido e muito zangado
Só quer ser um cangaceiro
Com a “parabela” de lado
O mau vizinho é um perigo
Se finge sempre de amigo
É um caboclo safado.
E bastante fofoqueiro
Com mulher é enxerido
Só quer ser o verdadeiro
Diz que só anda na linha
Não passa de um “coxinha”
É tão falso e trapaceiro.
No seu papel principal
Conta história mal contada
Separando até casal
Fala mal de filha alheia
Sua boca vive cheia
De praticar esse mal.
Vai pra beira da estrada
Quando os carros vão passando
Ele joga uma pedrada
Depois que o carro sobra
Numa arriscada manobra
Acha bonita a virada.
Tem a mente traiçoeira
Vai lá no cercado alheio
Direto abrir a porteira
Outros chegam lá nas casas
Das galinhas quebram asas
Com quebra de baladeiras.
Que só vive de fuxico
Fala da mulher do pobre
Fala da mulher do rico
Sua língua é uma tesoura
Tal formiga na lavoura
Cortando faz tico tico!
No sertão ou na cidade
Incomoda a vizinhança
E toda a sociedade
Da colega tem ciúme
E fala mal do perfume
Na boca só tem maldade.
Quem reside perto dela
Ela toda curiosa
Brecha até pela janela
Critica a pobre vizinha
A chamando de galinha
Fazendo a pior novela.
Fala de mulher casada
Critica moça donzela
E mulher desmantelada
Até da mulher bonita
A mau vizinha maldita
Dá a sua alfinetada.
Falando da vida alheia
Só ela é que é bonita
Chamando a outra de feia
Xinga pra infernizar
E de tanto azucrinar
Termina levando peia.
É magra, feia e amarela
Só trata a vizinha mal
Chama a mesma de cadela
Dizendo você não presta
Ainda diz que detesta
A pobre lá da favela.
Ninguém vive sossegado
Seu instinto é perigoso
Só pode ser atentado
Mau vizinho é coisa ruim
Falo tim tim por tim tim
É um ente desgraçado.
O sofrimento é profundo
Com tanta desigualdade
Que abala todo mundo
Mau vizinho é um mundé
Armado por Lucifé
Um espírito vagabundo.
Rezo, rogo e faço figa
Quem não comprar minha obra
Merece dor de barriga
Um bicho no seu caminho
E que todo mau vizinho
Quando lhe vir lhe persiga.
Gostou do cordel?
Conte-nos, deixando o seu comentário!
Quem é o cordelista?
Jesus Rodrigues Sindeaux nasceu no dia 07 de setembro de 1948. Embora tenha nascido no Sítio Santa Quitéria, pertencente ao município de Mombaça - Ceará, criou-se no Sítio Olho D'água de Fora, pertencente ao município de Pedra Branca, no mesmo estado. A poesia permeou a sua vida desde a infância. É tanto que Jesus aprendeu conheceu as primeiras letras aos 11 anos, aprendendo a ler e a escrever com os folhetos de literatura de cordel. Seu amor pela poesia popular o tornou poeta e o fez publicar dezenas de cordéis, entre eles: Joãozinho Sonhador no reino Serra Quebrada, O casamento do potó com a barata e A história de FHC e o apagão.
Leia também aqui neste blog: Se a gente comer errado, O marido que rifou a mulher na feira da Sulanca e Galinha Rafinha.