sexta-feira, 27 de agosto de 2021

A LENDA DA VITÓRIA-RÉGIA EM VERSOS DE CORDEL

A lenda da vitória-régia
(Rouxinol do Rinaré)
 
Tupã inspire o poeta
Que nesta hora procura
(Usando rimas perfeitas)
Falar de uma gente pura,
Mergulhando no universo
De índio e sua cultura!
 
Pois sobre a Vitória-régia
Pretendo falar aqui
Como nasceu esta flor
Segundo o povo tupi...
O mistério envolve a lua,
Que os índios chamam Jaci.
 
Falarei de Maraí,
Índia de rara beleza,
Que admirava as estrelas
E a lua, em sua grandeza,
Brincando à beira dos lagos,
Pois amava a natureza!
 
Seu pai dizia que a lua
Às moças índias ouvia;
Se lhe fizessem pedidos
Jaci de pronto atendia
Maraí, pensando nisso,
Enchia-se de alegria.
 
O sonho de Maraí
Era tornar-se uma estrela;
E surgindo a lua cheia
(Ninguém podia detê-la)
À beira do grande lago
Corria a índia para vê-la.
 
À noite às margens do lago
Passeava Maraí
E no límpido espelho d’água
Viu a imagem de Jaci;
A índia se deslumbrou
E ficou fora de si...
 
Sentiu-se a moça atraída
E nas águas mergulhou
Querendo abraçar a lua,
Porém nunca mais voltou.
Naquele profundo lago
Com certeza de afogou!
 
Conta a lenda que a lua
Sentiu muita pena dela
E a transformou numa flor
Grande, majestosa e bela...
A nossa Vitória-régia
É Maraí, a donzela.
 
Seu sonho de ser estrela
Assim foi realizado.
Pois na Estrela dos lagos
Seu corpo foi transformado;
E hoje exala nas águas
Seu aroma perfumado!


Gostou do cordel?
Conte-nos, deixando o seu comentário!


A lenda da vitória-régia é originária da região Norte e uma das mais populares do folclore brasileiro. Reza a lenda que a lua era um deus que ao se apaixonar pelas moças, vinham buscá-las para levá-las consigo. Naiá, uma jovem índia, apaixonada pela lua, viu-a refletida nas águas de um lago e acreditando ser a sua paixão, atirou-se ao seu encontro, morrendo afogada. A lua, então, a transformou em uma estrela das águas.


Veja como a flor da vitória-régia realmente parece com uma estrela:



Fonte: Pinterest


A vitória-régia é uma planta aquática, da família Nymphaeceae, cujas folhas podem medir até 2 metros de diâmetro e sustentar até 40 quilos em cima dela. Suas flores brotam entre janeiro e fevereiro, abrindo somente à noite e com uma curta duração de 48 horas. No primeiro dia as flores aparecem na cor branca, transformando-se, depois, na cor rosa. Ainda exalam um doce e forte perfume. Como é nativa da região Norte, é justificável a origem da lenda.


Ilustração da lenda vitória-régia:



Imagem criada por Eduardo Duval, Frata Soares e André Leão


Veja uma representação animada dessa lenda, clicando no vídeo abaixo:







sexta-feira, 13 de agosto de 2021

A LENDA DO GUARANÁ EM VERSOS DA LITERATURA DE CORDEL

A lenda do guaraná
 
(Rouxinol do Rinaré)
 
No dia em que não escrevo
Fico triste, apreensivo.
O versejar me renova,
E pra mostrar que estou vivo
Vou resgatar a cultura
Do nosso povo nativo.
 
Eu tenho um forte motivo
Para falar dessa gente,
De suas lendas e mitos
Porque sou bem consciente
Que dos índios brasileiros
Eu também sou descente.
 
Meu cordel é referente
À Lenda do Guaraná.
Dos índios da Amazônia
Pro povo do Ceará
Eu fui buscar esta lenda
Entre as mais belas que há!
 
Aqui o leitor verá
Meu maior objetivo:
Mostrar que o índio deixou-nos
Legado bem expressivo
Em histórias que confirmam
Que nunca viveu passivo.
 
Nem impulso decisivo
Meu espírito disse: “Vá
Ao coração da floresta
Da Amazônia, que lá
Encontrarás a origem
Da Lenda do Guaraná...
 
Vá enquanto ainda há
Floresta, índio, maloca
Em um velho pajé que fica
À noite em frente da oca
Contando pros curumins
Histórias, bebendo moca!”
 
Sagrado dever me toca
Por essa nação irmã.
Assim, impressionado
Invoquei o deus Tupã
E ele mostrou-me um índio
Com uma bela cunhã.
 
Faziam parte do clã
Do nobre povo Maué.
Às margens do Tapajós
Viviam cheios de fé
Ouvindo a voz de Tupã
E os ensinos do pajé.
 
Eram felizes até
Sentirem necessidade
De um filho, um curumim,
Pra dar continuidade
A semente da família
Naquela comunidade.
 
Ao grande deus, na verdade,
Rogam pelo dom divino.
E Tupã deu, por resposta,
Belo e saudável menino
Com mil bênçãos para a tribo
E pra si próprio um destino...
 
Num ritual vespertino
Esse curumim nasceu.
Houve festa na aldeia,
Um milagre aconteceu:
Relampejou, trovejou,
Mudou o tempo e choveu!
 
A tribo toda temeu
Prostrando-se sobre os pés.
Tupã falou, num trovão,
Aos caciques e pajés:
- O curumim é sagrado
Para todos os Maués!
 
Que vocês sejam fiéis
Protegendo essa criança.
Sua presença na aldeia
Trará fartura e bonança.
Mas cuidem que o curumim
Viva sempre em segurança.
 
Pouco a pouco o tempo avança
E os Maués tinham fartura:
Muito peixe, muita caça,
Bons frutos na agricultura,
Saúde, alegria e paz
No seio da “Mãe Natura”.
 
Toda a aldeia procura
Cuidar bem do curumim,
Pois desde que ele nascera
Não havia tempo ruim.
A mata era um paraíso,
Eram felizes, enfim.
 
O menino-deus, assim,
Era sempre bem guardado.
Pra passear na floresta
Só saía acompanhado
Por mateiros que, atentos,
O mantinha vigiado.
 
Um nadador preparado
Nas águas o precedia
Antes d’ele tomar banho.
E um outro batedor ia
Às margens do rio Tapajós
Ver se algum perigo havia.
 
Deixo a tribo que se seguia
Em plena felicidade
Para falar sobre um ser,
Jurupari, na verdade,
O dia para os nativos,
O espírito da maldade.
 
Vivia em dificuldade
O invisível vilão.
Para atingir os Maués
Faltava-lhe ocasião
Porque a tribo gozava
De Tupã a proteção.
 
Cheio de insatisfação,
O cruel Jurupari,
Não mais suportava as bênçãos
Da paz que reinava ali
Odiava o curumim
E toda a nação Tupi.
 
Pensou de si para si:
- Deve existir algum jeito...
Vou destruir o menino.
Sendo o humano imperfeito,
Entre o zelo dos Maués
Um dia encontro um defeito!
 
Agora, com um plano feito,
Segue o espírito do mal
Os passos do curumim,
Qual persistente rival,
Espreitando para, enfim,
Armar-lhe um laço fatal.
 
Um lugar especial
Naquela floresta havia
Cercado por mil segredos
Por isso se proibia
Que alguém por ali andasse,
Fosse de noite ou de dia.
 
O curumim quando ouvia
Sobre a floresta encantada
Sua curiosidade
Sempre ficava aguçada
Desejando passear
Pela mata inexplorada.
 
Nunca lhe falaram nada
Sobre maldade ou castigo.
Cercado de proteção,
Tendo a taba por abrigo,
Crescia esse curumim
Sem ter noção do perigo.
 
Um dia pensou consigo:
- Vou ver coisa diferente!
Num descuido do seu povo
Saiu sorrateiramente;
Na floresta proibida
Foi brincar muito contente.
 
Seus guardiões, simplesmente,
Inda o julgavam dormindo
E por isso não puderam
Vê-lo quando ia saindo
E o curumim nem sonhava
Em que estava caindo.
 
Jurupari pressentido
Tamanha oportunidade
Seguia-lhe invisível
Pra cumprir sua vontade
De matar o curumim
Por inveja e crueldade.
 
Esse espírito de maldade
Agindo rapidamente
Se materializou
Transformando-se em serpente
Pra dar o bote fatal
No curumim inocente.
 
O menino indiferente
Em uma árvore subiu.
Uma cascavel enorme
Naquele instante surgiu,
Se enroscando na árvore
Sua cauda sacudiu.
 
De cima o curumim viu,
Muito decepcionado,
Que a floresta encantada
Da qual havia falado
Não era nada daquilo
Do que tinha imaginado.
 
Dali desceu apressado
E assim que no chão pisou
Viu a serpente, porém,
Simplesmente ignorou.
Jurupari, traiçoeiro,
Deu o bote e lhe picou.
 
O curumim se assustou
Rumo à aldeia correu.
Sentiu arder o veneno
Percorrendo o corpo seu
E ali mesmo na mata
Perdendo as forças morreu.
 
Quando a tribo percebeu
Que ele havia sumido
Todos foram procurar-lhe
Fazendo grande alarido
Encontrando enfim seu corpo,
Sem vida, no chão caído.
 
- Nosso povo foi vencido,
Gritaram todos os Maués.
Um povo comum seremos
(sentenciaram os pajés).
Sujeitos à peste, à fome
E da sorte um duro revés!
 
Igual aos igarapés,
Onde existe água à vontade,
Haverá em nossos olhos
Pranto e infelicidade.
Jurupari nos trará
Miséria e necessidade.
 
A Tupã, deus da bondade,
Todos pediam perdão.
Junto ao corpo do menino
Faziam lamentação.
E esse ritual sagrado
Dos Maués não foi em vão...
 
No ribombar dum trovão
Ouviram Tupã falar:
- Os olhos do curumim
Arranquem para plantar
E depois com vossas lágrimas
A terra devem regar.
 
Feito assim irá brotar
Dessa terra umedecida
Uma planta diferente
Pra vocês, desconhecida,
E seus frutos milagrosos
Serão os frutos da vida.
 
Após a ordem cumprida
Estranha planta nascia
E o fruto que ela vingava
Partindo-o se percebia
Que com os olhos do menino
O fruto se parecia.
 
Os Maués com alegria
Muitas bênçãos constatavam:
Exuberante saúde
Quando do fruto provavam
Fortaleciam-se os jovens
E os velhos revigoravam.
 
Assim eles explicavam
Como o Guaraná nasceu.
E de fogueira em fogueira
A lenda prevaleceu
Do fruto que lembra os olhos
Do curumim que morreu.
 



A lenda do guaraná é originária da região Norte e uma das mais populares do folclore brasileiro. Reza a lenda que o guaraná, fruto típico dessa região, surgiu dos olhos de um curumim, ou seja, de um pequeno índio, morto pela picada de uma serpente.


Veja como o fruto realmente se parece com os olhos de uma criança:


Fonte: Blog Boticapets

Veja uma representação animada dessa lenda, clicando no vídeo abaixo:






Leia também aqui neste blog: A triste partida e Aladim em literatura de cordel.