A lenda do guaraná
(Rouxinol do Rinaré)
No dia em que não escrevo
Fico triste, apreensivo.
O versejar me renova,
E pra mostrar que estou vivo
Vou resgatar a cultura
Do nosso povo nativo.
Eu tenho um forte motivo
Para falar dessa gente,
De suas lendas e mitos
Porque sou bem consciente
Que dos índios brasileiros
Eu também sou descente.
Meu cordel é referente
À Lenda do Guaraná.
Dos índios da Amazônia
Pro povo do Ceará
Eu fui buscar esta lenda
Entre as mais belas que há!
Aqui o leitor verá
Meu maior objetivo:
Mostrar que o índio deixou-nos
Legado bem expressivo
Em histórias que confirmam
Que nunca viveu passivo.
Nem impulso decisivo
Meu espírito disse: “Vá
Ao coração da floresta
Da Amazônia, que lá
Encontrarás a origem
Da Lenda do Guaraná...
Vá enquanto ainda há
Floresta, índio, maloca
Em um velho pajé que fica
À noite em frente da oca
Contando pros curumins
Histórias, bebendo moca!”
Sagrado dever me toca
Por essa nação irmã.
Assim, impressionado
Invoquei o deus Tupã
E ele mostrou-me um índio
Com uma bela cunhã.
Faziam parte do clã
Do nobre povo Maué.
Às margens do Tapajós
Viviam cheios de fé
Ouvindo a voz de Tupã
E os ensinos do pajé.
Eram felizes até
Sentirem necessidade
De um filho, um curumim,
Pra dar continuidade
A semente da família
Naquela comunidade.
Ao grande deus, na verdade,
Rogam pelo dom divino.
E Tupã deu, por resposta,
Belo e saudável menino
Com mil bênçãos para a tribo
E pra si próprio um destino...
Num ritual vespertino
Esse curumim nasceu.
Houve festa na aldeia,
Um milagre aconteceu:
Relampejou, trovejou,
Mudou o tempo e choveu!
A tribo toda temeu
Prostrando-se sobre os pés.
Tupã falou, num trovão,
Aos caciques e pajés:
- O curumim é sagrado
Para todos os Maués!
Que vocês sejam fiéis
Protegendo essa criança.
Sua presença na aldeia
Trará fartura e bonança.
Mas cuidem que o curumim
Viva sempre em segurança.
Pouco a pouco o tempo avança
E os Maués tinham fartura:
Muito peixe, muita caça,
Bons frutos na agricultura,
Saúde, alegria e paz
No seio da “Mãe Natura”.
Toda a aldeia procura
Cuidar bem do curumim,
Pois desde que ele nascera
Não havia tempo ruim.
A mata era um paraíso,
Eram felizes, enfim.
O menino-deus, assim,
Era sempre bem guardado.
Pra passear na floresta
Só saía acompanhado
Por mateiros que, atentos,
O mantinha vigiado.
Um nadador preparado
Nas águas o precedia
Antes d’ele tomar banho.
E um outro batedor ia
Às margens do rio Tapajós
Ver se algum perigo havia.
Deixo a tribo que se seguia
Em plena felicidade
Para falar sobre um ser,
Jurupari, na verdade,
O dia para os nativos,
O espírito da maldade.
Vivia em dificuldade
O invisível vilão.
Para atingir os Maués
Faltava-lhe ocasião
Porque a tribo gozava
De Tupã a proteção.
Cheio de insatisfação,
O cruel Jurupari,
Não mais suportava as bênçãos
Da paz que reinava ali
Odiava o curumim
E toda a nação Tupi.
Pensou de si para si:
- Deve existir algum jeito...
Vou destruir o menino.
Sendo o humano imperfeito,
Entre o zelo dos Maués
Um dia encontro um defeito!
Agora, com um plano feito,
Segue o espírito do mal
Os passos do curumim,
Qual persistente rival,
Espreitando para, enfim,
Armar-lhe um laço fatal.
Um lugar especial
Naquela floresta havia
Cercado por mil segredos
Por isso se proibia
Que alguém por ali andasse,
Fosse de noite ou de dia.
O curumim quando ouvia
Sobre a floresta encantada
Sua curiosidade
Sempre ficava aguçada
Desejando passear
Pela mata inexplorada.
Nunca lhe falaram nada
Sobre maldade ou castigo.
Cercado de proteção,
Tendo a taba por abrigo,
Crescia esse curumim
Sem ter noção do perigo.
Um dia pensou consigo:
- Vou ver coisa diferente!
Num descuido do seu povo
Saiu sorrateiramente;
Na floresta proibida
Foi brincar muito contente.
Seus guardiões, simplesmente,
Inda o julgavam dormindo
E por isso não puderam
Vê-lo quando ia saindo
E o curumim nem sonhava
Em que estava caindo.
Jurupari pressentido
Tamanha oportunidade
Seguia-lhe invisível
Pra cumprir sua vontade
De matar o curumim
Por inveja e crueldade.
Esse espírito de maldade
Agindo rapidamente
Se materializou
Transformando-se em serpente
Pra dar o bote fatal
No curumim inocente.
O menino indiferente
Em uma árvore subiu.
Uma cascavel enorme
Naquele instante surgiu,
Se enroscando na árvore
Sua cauda sacudiu.
De cima o curumim viu,
Muito decepcionado,
Que a floresta encantada
Da qual havia falado
Não era nada daquilo
Do que tinha imaginado.
Dali desceu apressado
E assim que no chão pisou
Viu a serpente, porém,
Simplesmente ignorou.
Jurupari, traiçoeiro,
Deu o bote e lhe picou.
O curumim se assustou
Rumo à aldeia correu.
Sentiu arder o veneno
Percorrendo o corpo seu
E ali mesmo na mata
Perdendo as forças morreu.
Quando a tribo percebeu
Que ele havia sumido
Todos foram procurar-lhe
Fazendo grande alarido
Encontrando enfim seu corpo,
Sem vida, no chão caído.
- Nosso povo foi vencido,
Gritaram todos os Maués.
Um povo comum seremos
(sentenciaram os pajés).
Sujeitos à peste, à fome
E da sorte um duro revés!
Igual aos igarapés,
Onde existe água à vontade,
Haverá em nossos olhos
Pranto e infelicidade.
Jurupari nos trará
Miséria e necessidade.
A Tupã, deus da bondade,
Todos pediam perdão.
Junto ao corpo do menino
Faziam lamentação.
E esse ritual sagrado
Dos Maués não foi em vão...
No ribombar dum trovão
Ouviram Tupã falar:
- Os olhos do curumim
Arranquem para plantar
E depois com vossas lágrimas
A terra devem regar.
Feito assim irá brotar
Dessa terra umedecida
Uma planta diferente
Pra vocês, desconhecida,
E seus frutos milagrosos
Serão os frutos da vida.
Após a ordem cumprida
Estranha planta nascia
E o fruto que ela vingava
Partindo-o se percebia
Que com os olhos do menino
O fruto se parecia.
Os Maués com alegria
Muitas bênçãos constatavam:
Exuberante saúde
Quando do fruto provavam
Fortaleciam-se os jovens
E os velhos revigoravam.
Assim eles explicavam
Como o Guaraná nasceu.
E de fogueira em fogueira
A lenda prevaleceu
Do fruto que lembra os olhos
Do curumim que morreu.
(Rouxinol do Rinaré)
No dia em que não escrevo
Fico triste, apreensivo.
O versejar me renova,
E pra mostrar que estou vivo
Vou resgatar a cultura
Do nosso povo nativo.
Eu tenho um forte motivo
Para falar dessa gente,
De suas lendas e mitos
Porque sou bem consciente
Que dos índios brasileiros
Eu também sou descente.
Meu cordel é referente
À Lenda do Guaraná.
Dos índios da Amazônia
Pro povo do Ceará
Eu fui buscar esta lenda
Entre as mais belas que há!
Aqui o leitor verá
Meu maior objetivo:
Mostrar que o índio deixou-nos
Legado bem expressivo
Em histórias que confirmam
Que nunca viveu passivo.
Nem impulso decisivo
Meu espírito disse: “Vá
Ao coração da floresta
Da Amazônia, que lá
Encontrarás a origem
Da Lenda do Guaraná...
Vá enquanto ainda há
Floresta, índio, maloca
Em um velho pajé que fica
À noite em frente da oca
Contando pros curumins
Histórias, bebendo moca!”
Sagrado dever me toca
Por essa nação irmã.
Assim, impressionado
Invoquei o deus Tupã
E ele mostrou-me um índio
Com uma bela cunhã.
Faziam parte do clã
Do nobre povo Maué.
Às margens do Tapajós
Viviam cheios de fé
Ouvindo a voz de Tupã
E os ensinos do pajé.
Eram felizes até
Sentirem necessidade
De um filho, um curumim,
Pra dar continuidade
A semente da família
Naquela comunidade.
Ao grande deus, na verdade,
Rogam pelo dom divino.
E Tupã deu, por resposta,
Belo e saudável menino
Com mil bênçãos para a tribo
E pra si próprio um destino...
Num ritual vespertino
Esse curumim nasceu.
Houve festa na aldeia,
Um milagre aconteceu:
Relampejou, trovejou,
Mudou o tempo e choveu!
A tribo toda temeu
Prostrando-se sobre os pés.
Tupã falou, num trovão,
Aos caciques e pajés:
- O curumim é sagrado
Para todos os Maués!
Que vocês sejam fiéis
Protegendo essa criança.
Sua presença na aldeia
Trará fartura e bonança.
Mas cuidem que o curumim
Viva sempre em segurança.
Pouco a pouco o tempo avança
E os Maués tinham fartura:
Muito peixe, muita caça,
Bons frutos na agricultura,
Saúde, alegria e paz
No seio da “Mãe Natura”.
Toda a aldeia procura
Cuidar bem do curumim,
Pois desde que ele nascera
Não havia tempo ruim.
A mata era um paraíso,
Eram felizes, enfim.
O menino-deus, assim,
Era sempre bem guardado.
Pra passear na floresta
Só saía acompanhado
Por mateiros que, atentos,
O mantinha vigiado.
Um nadador preparado
Nas águas o precedia
Antes d’ele tomar banho.
E um outro batedor ia
Às margens do rio Tapajós
Ver se algum perigo havia.
Deixo a tribo que se seguia
Em plena felicidade
Para falar sobre um ser,
Jurupari, na verdade,
O dia para os nativos,
O espírito da maldade.
Vivia em dificuldade
O invisível vilão.
Para atingir os Maués
Faltava-lhe ocasião
Porque a tribo gozava
De Tupã a proteção.
Cheio de insatisfação,
O cruel Jurupari,
Não mais suportava as bênçãos
Da paz que reinava ali
Odiava o curumim
E toda a nação Tupi.
Pensou de si para si:
- Deve existir algum jeito...
Vou destruir o menino.
Sendo o humano imperfeito,
Entre o zelo dos Maués
Um dia encontro um defeito!
Agora, com um plano feito,
Segue o espírito do mal
Os passos do curumim,
Qual persistente rival,
Espreitando para, enfim,
Armar-lhe um laço fatal.
Um lugar especial
Naquela floresta havia
Cercado por mil segredos
Por isso se proibia
Que alguém por ali andasse,
Fosse de noite ou de dia.
O curumim quando ouvia
Sobre a floresta encantada
Sua curiosidade
Sempre ficava aguçada
Desejando passear
Pela mata inexplorada.
Nunca lhe falaram nada
Sobre maldade ou castigo.
Cercado de proteção,
Tendo a taba por abrigo,
Crescia esse curumim
Sem ter noção do perigo.
Um dia pensou consigo:
- Vou ver coisa diferente!
Num descuido do seu povo
Saiu sorrateiramente;
Na floresta proibida
Foi brincar muito contente.
Seus guardiões, simplesmente,
Inda o julgavam dormindo
E por isso não puderam
Vê-lo quando ia saindo
E o curumim nem sonhava
Em que estava caindo.
Jurupari pressentido
Tamanha oportunidade
Seguia-lhe invisível
Pra cumprir sua vontade
De matar o curumim
Por inveja e crueldade.
Esse espírito de maldade
Agindo rapidamente
Se materializou
Transformando-se em serpente
Pra dar o bote fatal
No curumim inocente.
O menino indiferente
Em uma árvore subiu.
Uma cascavel enorme
Naquele instante surgiu,
Se enroscando na árvore
Sua cauda sacudiu.
De cima o curumim viu,
Muito decepcionado,
Que a floresta encantada
Da qual havia falado
Não era nada daquilo
Do que tinha imaginado.
Dali desceu apressado
E assim que no chão pisou
Viu a serpente, porém,
Simplesmente ignorou.
Jurupari, traiçoeiro,
Deu o bote e lhe picou.
O curumim se assustou
Rumo à aldeia correu.
Sentiu arder o veneno
Percorrendo o corpo seu
E ali mesmo na mata
Perdendo as forças morreu.
Quando a tribo percebeu
Que ele havia sumido
Todos foram procurar-lhe
Fazendo grande alarido
Encontrando enfim seu corpo,
Sem vida, no chão caído.
- Nosso povo foi vencido,
Gritaram todos os Maués.
Um povo comum seremos
(sentenciaram os pajés).
Sujeitos à peste, à fome
E da sorte um duro revés!
Igual aos igarapés,
Onde existe água à vontade,
Haverá em nossos olhos
Pranto e infelicidade.
Jurupari nos trará
Miséria e necessidade.
A Tupã, deus da bondade,
Todos pediam perdão.
Junto ao corpo do menino
Faziam lamentação.
E esse ritual sagrado
Dos Maués não foi em vão...
No ribombar dum trovão
Ouviram Tupã falar:
- Os olhos do curumim
Arranquem para plantar
E depois com vossas lágrimas
A terra devem regar.
Feito assim irá brotar
Dessa terra umedecida
Uma planta diferente
Pra vocês, desconhecida,
E seus frutos milagrosos
Serão os frutos da vida.
Após a ordem cumprida
Estranha planta nascia
E o fruto que ela vingava
Partindo-o se percebia
Que com os olhos do menino
O fruto se parecia.
Os Maués com alegria
Muitas bênçãos constatavam:
Exuberante saúde
Quando do fruto provavam
Fortaleciam-se os jovens
E os velhos revigoravam.
Assim eles explicavam
Como o Guaraná nasceu.
E de fogueira em fogueira
A lenda prevaleceu
Do fruto que lembra os olhos
Do curumim que morreu.
A lenda do guaraná é originária da região Norte e uma das mais populares do folclore brasileiro. Reza a lenda que o guaraná, fruto típico dessa região, surgiu dos olhos de um curumim, ou seja, de um pequeno índio, morto pela picada de uma serpente.
Veja como o fruto realmente se parece com os olhos de uma criança:
Fonte: Blog Boticapets
Veja uma representação animada dessa lenda, clicando no vídeo abaixo:
Leia também aqui neste blog: A triste partida e Aladim em literatura de cordel.
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