sexta-feira, 25 de outubro de 2019

SEQUÊNCIA DIDÁTICA DO CORDEL: NO TEMPO EM QUE OS BICHOS FALAVAM

A partir de hoje eu vou disponibilizar algumas sequências didáticas que tenho, elaboradas por mim ou com a ajuda de outras pessoas. Esta sequência abaixo, por exemplo, foi elaborada para a aula do Projeto Cordelendo, em que as minhas alunas do curso de Letras (hoje professoras) e eu ministramos em uma turma de sexto ano.

TEMA:
Os animais

OBJETO DE ESTUDO:
A ludicidade do tema dos bichos presente na literatura de cordel

SÉRIE:
6º ano do ensino fundamental
Sugerimos a aplicação desta sequência didática no 6º ano do ensino fundamental, pela temática do folheto, pela sua linguagem, pelo humor presente nos versos e, sobretudo, pelo seu caráter lúdico. 

OBJETIVOS:
- estimular o gosto pela leitura de cordéis;
- proporcionar a fruição através da experiência estética com a literatura de cordel;
- formar leitores assíduos e críticos da literatura de cordel.

RECURSOS DIDÁTICOS:
- folheto (ou cópia do folheto) No tempo em que os bichos falavam, do poeta José Francisco Borges;
- cópia da música "Coco da bicharada", de Antônio Nóbrega e Wilson Torres.
- Data show
- caixa de som
- notebook
- folhas de papel ofício
- lápis de cor

PROCEDIMENTOS:
- leitura oral;
- leitura compartilhada;
- discussão e debate;
- desenho e pintura;
- canção.

QUANTIDADE DE AULAS:
2 aulas

DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES:

As etapas da sequência didática a seguir foram baseadas nas sugestões de Rildo Cosson (Letramento literário: teoria e prática, 2009) e contém os seguintes pontos: Apresentação, Motivação, Leitura, Discussão/ Debate, Registro, Expansão e Avaliação.

APRESENTAÇÃO:
Consideramos importante, no início da aula, falarmos sobre a literatura de cordel a fim de situar os alunos no contexto desse novo gênero textual. Este tipo de texto requer um modo peculiar de ler, o qual os alunos necessitam saber, antes de se fazer a sua leitura.
É importante que o professor, oralmente, e de modo simplificado, aborde (comente) o uso das rimas, do ritmo que demarca os versos e da musicalidade presente no texto, porém deve lembrar-se que o objetivo do encontro não é dar uma aula explicativa sobre literatura de cordel, e sim proporcionar um momento de leitura e fruição a partir desses textos. Sendo assim, pode-se primeiramente perguntar aos alunos se eles conhecem a literatura de cordel. Após as respostas, o professor pode explanar o que é a literatura de cordel e suas principais características, e depois introduzir o texto, motivo principal da aula.
Entendemos que esta singela abordagem (sondagem) seja essencial para o processo de leitura, uma vez que os alunos do sexto ano pouco tenham tido contato (ou não tenham tido nenhum) com a literatura de cordel. Em outro momento, pode-se retornar ao assunto e abordar outras características e textos. A partir desse encontro contínuo com a literatura de cordel, os alunos serão capazes de reconhecê-la e apreciá-la, tornando-se leitores assíduos e críticos.

MOTIVAÇÃO:
A motivação da aula é algo muito importante para o processo de desenvolvimento das atividades planejadas, pois é a partir dela que o aluno sente-se instigado a participar de todos os momentos a serem executados. É a partir desta primeira etapa que o aluno, ao poder fazer previsões acerca do tema e objeto da aula, identifica-se com estes e adentra no mundo da leitura.
Tendo em vista que o cordel trata-se de animais, o professor pode iniciar este primeiro momento com as seguintes perguntas aos alunos:
- Quem gosta de animais?
- Quais animais vocês mais gostam?
- Quem tem animais em casa? Quais?
- Como é a sua relação com o seu animal de estimação?
- Seu animal faz alguma coisa diferente do comum? O quê?
- O que vocês acham da ideia de os bichos poderem falar? Quem acha que seria legal?
- O que será que os animais nos diriam?
É importante lembrar ao professor que a interação com os alunos através dessas perguntas não pode se estender para que não se perca o ritmo da aula e para que eles não se dispersem, perdendo o interesse pelas atividades posteriores.
Já que a turma do sexto ano do ensino fundamental é composta, em sua maioria, por crianças, o uso de um vídeo sobre animais pode ser muito pertinente. Há vários vídeos interessantes e com fatos curiosos sobre bichos na internet. O professor pode sentir-se à vontade para procurar no youtube e ver o que mais pode atender o horizonte de expectativa dos seus alunos. Sugerimos o vídeo: “O que os animais diriam se pudessem falar?”.
Após esse diálogo e a exibição do vídeo para a turma, o professor pode introduzir o tema de aula e informar aos alunos que eles irão conhecer uma estória que trata do tempo em que os bichos falavam.

LEITURA:
A segunda etapa da aula constitui-se da leitura do texto literário, nesse caso, o cordel No tempo em que os bichos falavam, do poeta José Francisco Borges. É o momento de encontro entre os alunos e o texto, e por esta razão este encontro precisa ser significativo, principalmente quando se trata da literatura de cordel, que tem um jeito peculiar de ser lido, cabendo ao professor atentar para a expressividade do ritmo, rimas e marcação das estrofes, chamando a atenção dos alunos.
No entanto, para que se faça inicialmente um reconhecimento do texto, é preciso uma primeira leitura e esta pode ser individual e silenciosa. Posteriormente deve ser feita uma segunda leitura, desta vez de forma compartilhada entre professor e alunos, em que cada qual possa ler uma estrofe do cordel. Isso possibilita a interação entre professor, texto e aluno e permite que o cordel seja contemplado na sua essência, que é a oralidade. 

DISCUSSÃO/ DEBATE
É importante após a leitura, o professor abrir um espaço para o debate e discussão do texto. Em todos os momentos da aula os alunos podem interagir, porém este momento deve ser reservado para que todos tenham a oportunidade de avaliar o cordel, à medida que tem a possibilidade de expor o que mais lhes chamou a atenção, as estrofes e versos que mais lhes agradaram.
Caso os alunos não participem inicialmente, o professor pode provocar a discussão a partir dos seguintes questionamentos:
- Vocês gostaram do cordel?
- De que vocês mais gostaram?
- Quais estrofes mais lhes chamaram a atenção? Por quê?
- De que animais no texto vocês mais gostaram? Por quê?
A partir daí a discussão vai fluindo naturalmente, dando origem a outros pontos que podem ser abordados.

REGISTRO:
Segundo Cosson (2009, p.114), através do registro podemos “verificar o balanço final, ou seja, se o objetivo da leitura foi alcançado”. Uma forma de verificar se a leitura foi eficaz e estimulante para os alunos do 6º ano do ensino fundamental é pedir que eles façam desenhos que representem as estrofes que mais lhes chamaram a atenção. O desenho é uma atividade lúdica e muito apreciada pelas crianças. Através dos traços e das cores, elas criam e recriam o mundo a sua volta.

EXPANSÃO:
De acordo com Cosson (2009, p. 94), a expansão “é esse movimento de ultrapassagem do limite de um texto para outros textos, quer visto como extrapolação dentro do processo de leitura, quer visto como intertextualidade no campo literário”. Sendo assim, o professor pode planejar uma ou várias atividades que complementem a leitura do cordel.
A expansão dessa aula será constituída de dois momentos: um dentro da sala de aula e outro extraclasse. Na sala de aula, após a confecção dos desenhos pelos alunos, o professor pode convidá-los a cantar a música “O coco da bicharada”, de Antônio Nóbrega e Wilson Freire. Para que isso seja possível, é importante distribuir cópias da música para que eles conheçam a letra.
O momento extraclasse baseia-se no acesso às outras atividades propostas no blog do projeto de extensão, também chamado de “Cordelendo”. No blog o aluno poderá encontrar atividades que intensifiquem o processo de aquisição da leitura e do tema do encontro. Lá encontram-se a leitura de um novo cordel digitalizado: O que vi no tempo que os bichos falavam e O azar na casa do funileiro, de Leandro Gomes de Barros, e a música: “Siri jogando bola”, de Luís Gonzaga.

AVALIAÇÃO:
É importante ressaltar que a avaliação aqui não serve para punir ou cobrar, mas para diagnosticar como se deu o processo de recepção e interação do texto com o leitor, portanto teremos como procedimento avaliativo a participação nas atividades propostas, bem como os comentários no blog.

Acesse aqui no blog os textos de cordéis: No tempo em que os bichos falavam e O que vi no tempo que os bichos falavam e O azar na casa do funileiro
Veja também como foi a experiência com essa sequência didática no Projeto Cordelendo, clicando em Projeto Cordelendo em ação no sexto ano



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