(Marcelo Soares)
No universo amoroso
entre
marido e mulher
há
algo misterioso
que
ninguém sabe sequer
se
deve ou não entre os dois
antes,
durante e depois
tentar
meter a colher
A mulher é a maior
expressão
da natureza
mistura
mais que perfeita
de
sedução e beleza
sem a
alma feminina
o
homem se contamina
de
solidão e tristeza
E
sendo a mulher a fêmea
atraia
para si o macho
e o
homem ao desejá-la
se
torna dela um capacho
dedicado
no afã
de
provar dela a maçã
colhida
no próprio cacho
Há o
homem que não honra
sequer
a calça que veste
bebe,
fuma, não trabalha
e não
faz nada que preste
só
vive pra vadiar
e não
há como negar
esta
verdade inconteste
Porém
existe mulher
que a
própria vida emperra
e
sendo mal resolvida
com o
homem vive em guerra
esta
precisa saber
e
depois reconhecer
que
uma mulher também erra
Não
tenho procuração
para
defender o homem
por
machista inveterado
espero
que não me tomem
e no
exemplo que vemos
um
sem o outro, sabemos
na certa
dá lobisomem
Por
isso quero contar
o
caso de Nicanor
cidadão,
pai exemplar
devotado
com ardor
andava
sempre na linha
e a
sua mulherzinha
se
chamava Leonor
Nicanor,
pra seu governo
era
marido extremoso
honesto,
trabalhador
pontual
e caprichoso
este orgulho
carregava
e
ninguém insinuava
que
ele fosse preguiçoso
Seus
vizinhos comentavam
com
certo ar de maldade
“Nicanor
é gente fina
mas
lhe falta autoridade”
“nem
respeito ele tem mais”
“assim
também é demais”
“se
dane tanta bondade”
Todo
dia Nicanor
saía
pra trabalhar
Leonor
ficava em casa
somente
pra se enfeitar
ao
vê-lo bater a porta
ela
dizia: - Estou morta
de
tanta roupa lavar!
Nicanor
dizia: - Não
se
mate por coisa vã
uma
boa lavadora
eu
vou comprar amanhã
de
tênis eu trouxe um par
pra
você caminhar
bem
cedo toda manhã!”
Já na
semana seguinte
Leonor
disse: - Paixão
vou
trocar nossa tevê
antiga
por um telão
daqueles
de dar inveja
e se
não matar, aleija
a
mulher do seu patrão
Todo
dia, Leonor
queria
uma novidade
jóias,
roupas e sapatos
tudo
que desse vontade
e o
pobre Nicanor
se
tornando o devedor
mais
famoso da cidade
Quinta-feira
Leonor
quis
se mudar pra outro bairro
na
sexta-feira ela disse:
- Eu
quero trocar o carro
a
minha mãe, coitadinha
reclama
que num fusquinha
nem
dá pra tirar um sarro
Dizia
para as amigas:
-
Dinheiro é pra se gastar
minha
mãe aconselhou-me
que
eu devia casar
com
um home m de dinheiro
que
não fosse pirangueiro
e
pudesse me bancar!
Nicanor
era bancário
trabalhava
feito louco
apesar
de ganhar bem
o que
sobrava era pouco
mas a
Dona Leonor
com o
pobre Nicanor
se
importava tampouco
Leonor
mostrava ser
um
poço de ilusão
e era
tão orgulhosa
que
mal pisava no chão
ainda
assim, Nicanor
a
tratava como flor
do
jardim do coração
Faltava
tempo e dinheiro
pra
curtir o futebol
passear
com a família
num
lindo dia de sol
ralava
de se acabar
sem
poder admirar
as
luzes do arrebol
Pra
piorar, Leonor
se
envergonhava dele
arranjava
mil desculpas
para
não sair com ele
e
para os filhos dizia:
- Não
andem na companhia
de um homem como
aquele!
Nicanor
sempre entregava
a
Leonor o dinheiro
pra
pagar a água, a luz
o
mercado, o açougueiro...
ela
comprava fiado
e o
Nicanor, coitado
passava
por tranbiqueiro
Certo
dia, Leonor
disse
a Nicanor assim:
-
Depois que lavar os pratos
venha
cá, olhe pra mim
veja
só o que eu ganhei
e
diga se eu não fiquei
parecido
um manequim!
Nicanor
naquela hora
quase
rodou “à baiana”
e
disse: - Você parece
uma
louca suburbana
Leonor
gritou: - Você
ganha
dinheiro, pra quê!
pra
juntar, seu muquirana!
Mulher
assim feito eu
o
homem tem quando pode
quando
não pode, babau
rói o
osso e se sacode
sai
logo do meu caminho
que
eu arranjei um brotinho
pra
me levar pro pagode!
Nicanor
gritou: - O que!
você
não vai fazer isso
quando
casei com você
assumi
um compromisso
agora
tudo mudou
vou
lhe mostrar que não sou
um
marido submisso!
Nesta
hora, Dona Branca
a
sogra de Nicanor
gritou
alto: - Solta ela
seu
bruto do estopor
vá
atrás de outra mulher
que
minha filha não quer
um
“maricas” sem valor!
Nicanor
juntou as duas
que
botavam muita “banca”
e
disse: - Você querida
e sua
mãe, Dona Branca
vão
receber um castigo
irão
agora comigo
para
a Feira da Sulanca!
Leonor,
daqui pra frente
não
vai mais fazer das suas
a
senhora, Dona Branca
vai
vadiar pelas ruas
chega
de ser explorado
só
ficarei sossegado
quando
rifar todas duas!
E fez
um cartaz bem grande
que
dizia: - Esta coruja
é a
minha querida sogra
diplomada
em boca suja
a
outra é a filha dela
e
quem ganhar leva ela
e a
velha de lambuja!
As
pessoas que passavam
comentavam
bem baixinho
um
velho disse prum moço:
-
Cansei de viver sozinho
tenho
fama de sortudo
por
isso vou gastar tudo
na
rifa do meu vizinho!
Perguntou
quanto era a rifa
Nicanor
disse: - Hum real
o
velho deu um muxôxo
Nicanor
disse: - Que tal!
comprando
a rifa todinha
ainda
leva a sogrinha
de
lambuja no final!
O
velho saiu contente
levando
a mãe e a filha
toda
vez que Nicanor
pergunta
pela família
o
velho sofre um ataque
e
diz: - Nem lá no Iraque
existe
tanta guerrilha
E aí gostou do cordel??
Eu preciso relatar que esse é um dos meus cordéis favoritos. Conheci-o durante um evento acadêmico na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), quando eu era aluna do mestrado em Literatura e Ensino, lá pelo ano de 2010. O próprio cordelista, Marcelo Soares, estava lá, vendendo seus cordéis, quando eu parei no seu stand para conhecer alguns dos seus títulos. Assim que vi esse cordel, eu olhei pra ele e disse que conhecia um folheto parecido com o seu, chamado "A mulher que vendeu o marido por R$ 1,99" (disponível aqui no blog). Ele, então, me relatou que escreveu o cordel "O marido que rifou a mulher na feira da Sulanca" justamente em resposta ao cordel do seu amigo Janduhi Dantas. E então, eu não contei conversa, tratei de comprar alguns exemplares. Esse dia ficou marcado em minha memória!Só lamento não ter tirado uma foto com o cordelista para ter guardado como recordação.
Mas e você, conhece alguém que gostaria de rifar a mulher?
Conte-nos, deixando um comentário.
Leia também aqui neste blog: A mulher que vendeu o marido por 1,99 e Sequência didática dos cordéis A mulher que vendeu o marido por 1,99 e O marido que rifou a mulher na Feira da Sulanca
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