quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

LITERATURA PATOENSE: A POESIA DE ERNANI SATYRO

O POEMA


Fazer o poema e largar.
O poeta é como a roseira: 
Só lhe cabe deixar a rosa
Desabrochar.

Fazer o poema e depois esquecer.
Eles mesmos é que tem
De viver
Ou morrer.

Fazer o poema e logo fugir.
Ele assim como o pássaro
É que tem 
De voar,
De subir.

Fazer o poema
E quebrar a caneta.
Que ele mais não precise 
Da tua muleta.

Mas como deixar,
Mas como esquecer,
Mas como quebrar
Caneta e fugir,
Se ainda não pude
O poema fazer,
Se ainda não pude
O destino cumprir?

BIOGRAFIA


As pernas com arranhões
De tantos os encontrões
Nas carreiras, a brincar.

Os lábios com assaduras
De tantas as mordeduras
Na delícia de beijar.

No coração tanto amor
No corpo tanto vigor
Até quando vai durar?

No corpo já o cansaço
No coração embaraço
Já é preciso parar.

Tantas vidas nessa vida
De uma só arrependida
Já pronta pra se emendar.

Joelhos com saliências
De tantas as penitências
No ato de ajoelhar.

Uma face tão velhinha
Uma voz tão fraquinha
- Jesus, pode me levar!

Porém Jesus não levou
E a sentença lavrou
- Aqui mesmo vais penar.

SONETO


                                         (A Antonietta)

Sinto que adoras ver-me recitar
Os versos de Machado a Carolina.
Nesses momentos, sempre me domina
O desejo também de te louvar.

É bem difícil, sabes, imitar
O ouro que jorrava aquela mina,
Mas, mesmo assim, bendigo a minha sina:
Se não sei fazer versos, sei amar.

Nosso recanto é o mundo recriado,
Pelos nossos três filhos prolongado.
Como a dos outros, árdua é nossa lida.

Numa parte, porém, temos mais sorte:
O Mestre o seu amor louvou a morte,
O meu amor eu louvo ainda em vida.

Fonte: Funes

         Ernani Aires Satyro e Sousa, ou simplesmente Ernani Satyro, nasceu em Patos, interior da Paraíba, no dia 11 de setembro de 1911. Sua grande paixão foi a literatura, que o levou a produzir poemas, crônicas, romances e ensaios, e a pertencer à Academia Paraibana de Letras, à Academia Brasiliense de Letras, à Academia Campinense de Letras e à Academia Acreana de Letras (por correspondência). Algumas de suas obras são: "O canto do retardatário" (poesia), "O quadro-negro" (romance) e "Mariana" (romance). No cenário político também fez história, exercendo mandatos de deputado estadual e deputado federal da Paraíba, prefeito de João Pessoa e ainda governador da Paraíba por dezoito dias.
           Ernani Satyro morreu no dia 8 de maio de 1986, aos 74 anos, vítima de um derrame cerebral, em Brasília, Distrito Federal. Seus restos mortais encontram-se sepultados em um mausoléu, no interior da Fundação Ernani Satyro - FUNES - na sua cidade natal. 


Quer conhecer um pouco mais sobre a FUNES e sobre o poeta? 

Clique nos vídeos abaixo e confira.











Para maiores informações sobre a vida artística e política de Ernani Satyro, você pode acessar o site da FUNES, http://www.funes.pb.gov.br/ 



E os poemas? São fantásticos, não são? 


Qual deles você mais gostou? 


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